28/09/2020

Identificados dois anti-inflamatórios que aceleram recuperação da Covid-19

Com informações da Agência Fapesp

Duas opções promissoras

Dois estudos clínicos independentes identificaram dois fármacos capazes de acelerar a recuperação de pacientes com covid-19 em estado grave.

O primeiro teste foi feito por pesquisadores do Centro de Terapia Celular (CTC), em Ribeirão Preto, com o anticorpo monoclonal eculizumabe, e outro por cientistas da Universidade da Pensilvânia (Estados Unidos) com uma droga experimental chamada AMY-101.

O anticorpo monoclonal, que já é usado no tratamento de doenças hematológicas, foi testado em pacientes do hospital da USP em Ribeirão Preto. Já o candidato a fármaco desenvolvido pela farmacêutica norte-americana Amynda foi administrado a pacientes de um hospital em Milão, na Itália.

Ambos apresentaram um forte efeito anti-inflamatório, tendo sido administrados separadamente. Mas como a molécula AMY-101 é mais barata e teve um desempenho ainda melhor no teste clínico, os dois grupos de pesquisa estão se juntando para testá-la em um grupo maior de pacientes no Brasil.

"Os dois compostos causaram uma resposta anti-inflamatória robusta que culminou em uma recuperação bastante rápida da função respiratória dos pacientes," disse o pesquisador brasileiro Rodrigo Calado.

Sistema complemento

Os pesquisadores constataram que os benefícios terapêuticos do eculizumabe e da molécula AMY-101 foram proporcionados pela inibição de uma cadeia de proteínas do sangue responsáveis pela resposta imunológica, chamada sistema complemento.

A ativação persistente e descontrolada do sistema complemento é responsável pela resposta inflamatória exacerbada à infecção pelo SARS-CoV-2, caracterizada por um aumento sistêmico de citocinas pró-inflamatórias - conhecido como "tempestade de citocinas".

Incapaz de impedir a infecção das células pelo vírus, o sistema complemento entra em uma espiral de ativação descontrolada e contínua que leva a uma infiltração maciça de monócitos e neutrófilos nos tecidos infectados. Esse quadro leva a danos inflamatórios persistentes das paredes dos vasos que circundam múltiplos órgãos vitais, à lesão microvascular disseminada e à trombose, culminando na falência de múltiplos órgãos.

Ação contra a covid-19

Os resultados das análises das respostas clínicas indicaram que o eculizumabe e a AMY-101 provocaram uma resposta anti-inflamatória robusta, refletida em um declínio acentuado nos níveis de proteína C reativa (CRP) e interleucina 6 (IL-6), que foi associado a uma melhora acentuada da função pulmonar dos pacientes.

A inibição da proteína C3 pela molécula AMY-101 proporcionou um controle terapêutico mais amplo, caracterizado pela recuperação mais rápida de linfócitos, declínio acentuado do número de neutrófilos e maior atenuação da tromboinflamação induzida pela resposta inflamatória exacerbada à infecção pelo SARS-CoV-2.

"Os resultados dos ensaios clínicos mostram que a inibição de componentes do sistema complemento causa uma diminuição bastante intensa da inflamação," afirmou Calado.

Em razão dos resultados promissores dos dois ensaios clínicos, os pesquisadores do CTC e da Universidade da Pensilvânia estão planejando realizar um estudo clínico de fase 3, com a participação de mais de 100 pacientes com covid-19 em estado grave. Os pacientes serão tratados apenas com AMY-101, no hospital da USP de Ribeirão Preto e envolverá outras instituições de pesquisa no país.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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