20/10/2020

Como as pessoas tomam decisões morais na ausência de regras

Redação do Diário da Saúde
Lógica da universalização ajuda a tomar decisões morais na ausência de regras
Os pesquisadores agora esperam explorar as razões pelas quais as pessoas às vezes parecem não usar a universalização nos casos em que ela poderia ser aplicável.[Imagem: CC0 Public Domain/Pixabay]

Universalização

Imagine que um dia você entra no ônibus e, por algum motivo, decide pular a catraca para não pagar a passagem.

Isso provavelmente não terá um grande impacto no bem-estar financeiro do sistema de transporte da sua cidade, mas certamente você ficará incomodado com a pergunta: "E se todos fizessem isso?"

O resultado seria muito diferente - o sistema provavelmente iria à falência e ninguém poderia mais andar de ônibus.

Os filósofos há muito acreditam que esse tipo de raciocínio, conhecido como universalização, é a melhor maneira de tomar decisões morais.

Mas será que as pessoas usam espontaneamente esse tipo de julgamento moral em sua vida cotidiana?

Em um experimento envolvendo várias centenas de pessoas, pesquisadores do MIT e da Universidade de Harvard (EUA) confirmaram que as pessoas usam sim esta estratégia em situações específicas, chamadas de "problemas de limiar", dilemas sociais nos quais podem ocorrer danos se todos, ou um grande número de pessoas, realizarem determinada ação.

E eles descobriram ainda outra coisa bem interessante, envolvendo as crianças.

Julgamento inconsciente

Os resultados foram tão conclusivos que a equipe conseguiu usá-los para desenvolver um modelo matemático que prediz quantitativamente os julgamentos que as pessoas provavelmente farão no seu dia a dia.

"Este mecanismo parece ser uma forma de descobrirmos espontaneamente quais são os tipos de ações que podemos fazer e que são sustentáveis em nossa comunidade," disse o pesquisador Sydney Levine.

A equipe também mostrou, pela primeira vez, que crianças de apenas quatro anos podem usar esse tipo de raciocínio - lógica da universalização - para julgar o certo e o errado.

Em uma brincadeira adequada à idade, a maioria das crianças considerava errado pegar uma pedra de um jardim se todas as crianças quisessem pedras, mas que seria permitido se apenas uma criança quisesse. No entanto, as crianças não foram capazes de explicar especificamente por que haviam feito esses julgamentos.

"O que é interessante sobre isso é que descobrimos que, se você configurar esse contraste cuidadosamente controlado, as crianças parecem estar usando esse cálculo, embora não consigam articulá-lo," disse Levine. "Elas não podem fazer uma introspecção em sua cognição e saber o que estão fazendo e por quê, mas parecem estar lançando mão do mecanismo de alguma maneira."

Ação coletiva

No mundo real, existem muitos casos em que a universalização pode ser uma boa estratégia para a tomada de decisões, mas não é necessária porque as regras já existem para governar essas situações.

"Existem muitos problemas de ação coletiva em nosso mundo que podem ser resolvidos com a universalização, mas eles já estão resolvidos com a regulamentação governamental," disse Levine. "Não dependemos das pessoas para ter esse tipo de raciocínio, apenas tornamos ilegal andar de ônibus sem pagar."

No entanto, a universalização ainda pode ser útil em situações que surgem repentinamente, antes que quaisquer regulamentos ou diretrizes governamentais tenham sido implementados. Por exemplo, no início da pandemia de covid-19, antes de muitos governos começarem a exigir máscaras em locais públicos, as pessoas que pensavam em usar máscaras podem ter-se perguntado o que aconteceria se todos decidissem não usá-las.

Os pesquisadores agora esperam explorar as razões pelas quais as pessoas às vezes parecem não usar a universalização nos casos em que ela poderia ser aplicável, como no combate às mudanças climáticas. Uma possível explicação é que as pessoas não têm informações suficientes sobre o dano potencial que pode resultar de certas ações, arrisca Levine.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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