11/05/2020

Medicamento anticoagulante reduz em 70% infecção pelo novo coronavírus

Com informações da Agência Fapesp
Medicamento anticoagulante reduz em 70% infecção pelo novo coronavírus
O gráfico (A) mostra que com a heparina ocorre alteração estrutural da proteína spike do SARS-CoV-2. Na imagem da proteína spike (B), a região em azul escuro representa o potencial domínio de ligação com o fármaco heparina[Imagem: Ag.Fapesp]

Coagulação

Estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e colaboradores europeus revela um possível novo mecanismo de ação do fármaco heparina no tratamento da covid-19.

Além de combater distúrbios de coagulação que podem afetar vasos do pulmão e prejudicar a oxigenação, o medicamento parece também ser capaz de dificultar a entrada do novo coronavírus (SARS-CoV-2) nas células.

Em testes de laboratório, feitos em linhagem celular proveniente do rim do macaco-verde africano (Cercopithecus aethiops), a heparina reduziu em 70% a invasão das células pelo novo coronavírus.

"Existiam indícios de que a heparina, que é um fármaco que desempenha várias funções farmacológicas, também tinha capacidade de prevenir infecções virais, incluindo por coronavírus, mas as evidências não eram muito robustas. Conseguimos comprovar essa propriedade do medicamento em ensaios in vitro," disse Helena Bonciani Nader, professora da Unifesp e coordenadora do projeto do lado brasileiro.

Contudo, o medicamento ainda apresenta efeitos colaterais graves.

Heparina

O grupo de Nader estuda há mais de 40 anos os glicosaminoglicanos - classe de carboidratos complexos à qual a heparina pertence - e desenvolveu as primeiras heparinas de baixo peso molecular, usadas clinicamente como agentes anticoagulantes e antitrombóticos, inclusive em pacientes com covid-19.

Uma das descobertas feitas pelo grupo ao longo deste período foi que a heparina é um medicamento multialvo, pois além do seu efeito na prevenção da coagulação do sangue pode se ligar a diversas proteínas. Entre elas, fatores de crescimento e citocinas que se ligam a receptores específicos na superfície de células-alvo.

Nos últimos anos, estudos feitos por outros grupos sugeriram que as proteínas de superfície de outros coronavírus até então relatados poderiam se ligar a um glicosaminoglicano das células de mamíferos, chamado heparam sulfato, para infectá-las.

Com o surgimento do SARS-CoV-2, os pesquisadores tiveram a ideia de avaliar se a proteína de superfície do novo coronavírus responsável pela infecção das células - chamada proteína espícula, ou spike - se liga à heparina, uma vez que a molécula do fármaco tem estrutura muito semelhante à do heparam sulfato.

Diminuir efeitos colaterais

Os experimentos confirmaram a hipótese. Por meio de técnicas de ressonância plasmônica de superfície e de espectroscopia de dicroísmo circular, observou-se que a heparina, ao se ligar às proteínas spike do SARS-CoV-2, causa nessas moléculas uma alteração conformacional. Dessa forma, avaria a "fechadura" para entrada do vírus nas células.

"Se não entrar na célula, o vírus não consegue se multiplicar e não tem sucesso na infecção," explicou Nader.

Os pesquisadores estão fazendo, agora, mudanças estruturais em heparinas para identificar uma molécula que apresente o mesmo efeito de ligação e mudança conformacional da proteína spike do novo coronavírus, mas que cause menos sangramento - um potencial efeito colateral do fármaco. "A ideia é chegar a uma molécula com melhor efeito antiviral," disse Nader.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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