12/03/2010

Melhora diagnóstico da síndrome de Turner, que só acomete meninas

Redação do Diário da Saúde
Melhora diagnóstico da síndrome de Turner, que só acomete meninas
Pesquisa indica que a inclusão de novas técnicas de análise cromossômica aperfeiçoou o diagnóstico da síndrome de Turner, que atinge uma em cada 2 mil meninas.[Imagem: Ag.Fapesp]

Síndrome de Turner

Os pais de meninas que apresentam déficit de crescimento devem procurar um pediatra, mesmo que elas não apresentem atraso no desenvolvimento das características sexuais secundárias femininas, indicam especialistas.

A chamada síndrome de Turner, que atinge somente meninas, é caracterizada pela perda parcial ou completa de um dos cromossomos sexuais (X ou Y).

Os principais sintomas são o atraso no desenvolvimento das características corporais femininas. A incidência da síndrome genética é estimada em uma em cada 2 mil meninas nascidas vivas.

Pesquisa sobre a síndrome de Turner

A síndrome de Turner foi objeto de uma pesquisa realizada na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), coordenada pelo Dr. Gil Guerra-Júnior, cujas principais conclusões apontam para a necessidade de atenção dos pais, para que o problema possa ser cuidado a tempo.

De acordo com Guerra-Júnior, o estudo foi dividido em três etapas: conhecer os casos diagnosticados da síndrome no Laboratório de Citogenética Humana; identificar por técnica de biologia molecular e citogenética molecular os casos com sequências de cromossomo Y; e identificar, nesses casos, as pacientes com tumor gonadal.

Ocorrência da doença

Levantando os casos registrados pelos laboratórios de análises genéticas da Unicamp, Guerra-Júnior e sua colega Beatriz Amstalden Barros verificaram um grande aumento na ocorrência da doença ao longo dos últimos 40 anos.

Enquanto era registrada a ocorrência de 1,7 caso por ano, em média, nos anos entre 1970 e 1980, esse número subiu para 10 casos por ano nas duas décadas seguintes, no período de 1989 a 2008.

Cromossomos sexuais

A síndrome de Turner se caracteriza pela perda total ou parcial do segundo cromossomo sexual, que tanto pode ser X ou Y. Mas no estudo, Guerra-Júnior e equipe, ao analisar os 260 casos diagnosticados, observaram que 16 deles continham cromossomo Y íntegro ou não.

As gônadas - glândulas reprodutivas, correspondente aos testículos no homem e aos ovários na mulher - das pacientes com síndrome de Turner são disgenéticas, ou seja, compostas por tecido fibroso sem capacidade de produção de hormônios ou gametas.

Quando associadas à presença de sequências do cromossomo Y, apresentam maior risco de desenvolver tumor. Por isso, na segunda etapa do projeto de pesquisa, o objetivo foi saber quais das pacientes com a síndrome apresentavam cromossomo Y.

Cromossomos

Desses 16 casos, seis apresentaram mosaicismo (mais de uma linhagem cromossômica no exame do cariótipo) com a presença de cromossomo Y íntegro e foram diagnosticados pela análise direta do cariótipo.

Os demais foram identificados apenas após estudo molecular de sequências do cromossomo Y por análise de reação em cadeia pela polimerase (PCR, na sigla em inglês) e todos confirmados pela análise de uma técnica de citogenética molecular conhecida como FISH (Fluorescent in situ hybridization).

"Alguns trabalhos apontam que a análise do DNA pela biologia molecular, especialmente quando utilizada a técnica de PCR aninhada, não é um bom método para a pesquisa de Y na síndrome de Turner, por poder apresentar diagnósticos falso-positivos.

"Nosso trabalho mostrou que os dois métodos (PCR e FISH) apresentam resultados exatamente iguais. Aquelas em que não se consegue diagnosticar por um método não se consegue com outro. E vice-versa. A correlação foi de 100%", afirmou Guerra-Júnior.

Hormônio do crescimento

Guerra-Júnior ressalta que um problema importante é o diagnóstico tardio da síndrome por pediatras, alguns por não pensarem na possibilidade desse diagnóstico e outros por não terem acesso fácil ao exame do cariótipo.

O diagnóstico tem ocorrido frequentemente após os 11 ou 12 anos de idade, o que impede que algumas medidas terapêuticas benéficas a estas pacientes não possam ser implementadas.

"A síndrome de Turner poderia e deveria ser diagnosticada nos primeiros anos de vida, pelas alterações físicas que essas pacientes podem apresentar (dismorfismos ou estigmas) e, principalmente, pelo déficit de crescimento", explicou.

"O hormônio de crescimento é autorizado mundialmente para uso nessas pacientes e, no Brasil, é distribuído gratuitamente pelo SUS como medicação de alto custo para as portadoras da síndrome. No entanto, seu uso, para ser eficaz, tem que ser precoce, o que não tem ocorrido, pelo diagnóstico tardio", disse.

Problemas congênitos

Essas pacientes, além do déficit de crescimento e das alterações da puberdade (não desenvolvimento de mamas, ausência de menstruação e infertilidade), podem apresentar outras anomalias congênitas e adquiridas, como malformações cardiovasculares e renais, deficiência auditiva, hipertensão arterial sistêmica, doenças na tireoide, osteoporose e obesidade.

O diagnóstico precoce da doença também permite uma melhor avaliação e conduta destas outras doenças associadas.

"A presença de tantos sinais e sintomas pode levar a graves consequências na esfera psicológica e social das pacientes com síndrome de Turner, devido à reação própria da paciente a essas características ou a reação dos outros", disse Guerra-Júnior.

"Os principais pontos são baixa estatura nas crianças, ausência de puberdade espontânea nas adolescentes e infertilidade nas mulheres adultas. A situação ideal é a de ter um diagnóstico preciso e precoce, com a instalação de medidas terapêuticas adequadas para cada fase da vida, e a atuação de um psicólogo junto com a equipe médica para apoio da paciente e da família", afirmou.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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