02/12/2025

Por que algumas memórias duram a vida toda e outras somem rapidamente?

Redação do Diário da Saúde
Por que algumas memórias duram a vida toda e outras somem rapidamente?
Vários estudos recentes estão mudando o modo como a ciência enxerga a memória.[Imagem: Marco Uytiepo et al. - 10.1126/science.ado8316]

Neurônios não são transistores

O modo como o cérebro armazena nossas memórias é um dos maiores enigmas da ciência, e Andrea Terceros e colegas da Universidade Rockefeller (EUA) acreditam ter encontrado mais uma peça importante desse quebra-cabeças.

Terceros descobriu um mecanismo passo a passo que orienta a forma como o cérebro organiza e estabiliza memórias duradouras, aquelas que levamos vida afora.

Ao monitorar a atividade cerebral durante tarefas de aprendizagem em realidade virtual, os pesquisadores identificaram moléculas que influenciam a duração das memórias: Cada molécula opera em uma escala de tempo diferente, formando um padrão coordenado de manutenção da memória em termos de sua longevidade, ou seja, se elas vão durar ou vão se esvair rapidamente.

"Esta é uma revelação fundamental porque explica como ajustamos a durabilidade das memórias," destaca a professora Priya Rajasethupathy, coordenadora da equipe. "O que escolhemos lembrar é um processo em constante evolução, e não algo que se resolve com um simples acionamento de um interruptor."

E esta é uma visão bem mais rica do processo de arquivamento de nossas memórias do que o modelo mais aceito pela comunidade científica até hoje.

"Os modelos existentes da memória no cérebro envolvem moléculas de memória semelhantes a transistores, que funcionam como interruptores liga/desliga," explicou Rajasethupathy.

Por que algumas memórias duram a vida toda e outras somem rapidamente?
Por que as pessoas se lembram de certas coisas e não de outras?
[Imagem: Fernanda Morales-Calva et al. - 10.3758/s13415-024-01234-4]

Memórias de curto e longo prazos

Em 2023, a mesma equipe descreveu um circuito cerebral que conecta os sistemas de memória de curto e longo prazos. Um elemento central dessa via é o tálamo, que ajuda a determinar quais memórias devem ser mantidas e as direciona para o córtex para estabilização a longo prazo.

Agora eles foram além, e descobriram que a memória de longo prazo não depende de um simples interruptor liga/desliga, mas de uma sequência de programas de regulação genética que se desenrolam como temporizadores moleculares por todo o cérebro.

Os temporizadores de ação mais imediata ativam-se rapidamente, mas desaparecem com a mesma rapidez, permitindo que as memórias se dissipem. Os temporizadores posteriores ativam-se mais gradualmente, dando às experiências importantes o suporte estrutural necessário para persistirem.

Esta descoberta pode eventualmente ajudar a tratar doenças relacionadas à memória. Por exemplo, ao compreender os programas genéticos que preservam a memória, os cientistas poderão redirecionar as vias da memória, contornando regiões cerebrais danificadas em condições como o Alzheimer. "Se soubermos quais são a segunda e a terceira áreas importantes para a consolidação da memória, e tivermos neurônios morrendo na primeira área, talvez possamos contornar a região danificada e deixar que as partes saudáveis do cérebro assumam o controle," sugeriu Rajasethupathy.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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