08/12/2020

Molécula antibiótica recupera defesa contra células infectadas pelo HIV

Redação do Diário da Saúde
Molécula antibiótica recupera defesa contra células infectadas pelo HIV
Agora serão necessários testes para otimizar a substância e monitorar seus efeitos de longo prazo.[Imagem: Mark M. Painter et al. - 10.1073/pnas.2008615117]

Ataque e contra-ataque

Há vários anos, cientistas descobriram que o HIV usa uma proteína chamada Nef para escapar do sistema imunológico, substituindo o funcionamento de uma proteína na superfície da célula que permite que as células imunológicas saibam que essa célula está infectada e precisa ser eliminada.

Quando o vírus desativa essa proteína, chamada MHC-I, as células infectadas são capazes de se proliferar, explicando porque o vírus HIV continua no corpo, exigindo que o paciente tome os antirretrovirais continuamente.

"Se eles pararem o tratamento, em pouco tempo, o vírus se recupera e se redefine em altos níveis como os vistos antes de começar as medicações - e esse parece ser o caso mesmo após décadas de terapia," explica o pesquisador Mark Painter, da Universidade de Michigan (EUA).

Os pesquisadores vinham então procurando substâncias que pudessem contra-atacar, alvejando a proteína Nef do vírus e evitando que ele engane o sistema imunológico.

"Começamos rastreando uma biblioteca de 200.000 pequenas moléculas e não encontramos nenhuma inibindo a Nef," conta Painter.

De mãos vazias, a equipe partiu então para outra frente, procurando substâncias produzidas naturalmente por bactérias.

"Muitas vezes, as moléculas sintéticas têm um peso molecular bastante baixo, o que significa que são bastante pequenas. E se você precisar interromper uma grande superfície ou interface de proteína, como com a Nef, uma molécula pequena não terá um bom resultado ou não funcionará," explicou o pesquisador. "Uma biblioteca de produtos naturais, por outro lado, terá moléculas com uma grande variedade de pesos e tamanhos."

Pleicomacrolidas

Depois de examinar cerca de 30.000 moléculas, a equipe finalmente descobriu que uma classe de moléculas de antibióticos, chamadas pleicomacrolidas, inibe a Nef.

"As pleicomacrolidas são amplamente usadas em experimentos de laboratório quando você deseja desligar o lisossoma. Por isso, são consideradas tóxicas e arriscadas de se usar como remédios," ponderou Painter - o lisossoma é uma organela celular essencial usada para quebrar partes de células desgastadas, vírus e bactérias.

Contudo, a equipe determinou que uma pleicomacrolida específica, chamada concanamicina A, inibe a Nef em concentrações muito mais baixas do que as necessárias para inibir o lisossoma, o que significa que a substância pode ser aplicada sem uma forte toxicidade para as células.

Em um experimento de prova de conceito, eles trataram células infectadas com HIV expressando a Nef com concanamicina A e descobriram que células T citotóxicas eram capazes de limpar as células T infectadas.

Mas a substância ainda não está pronta para ser usada como medicamento no tratamento de pessoas infectadas pelo HIV. "Mais pesquisas serão necessárias para otimizar o composto. Teremos de separar ainda mais a potente atividade inibitória do Nef do efeito mais tóxico na função lisossomal para torná-la uma terapia viável," disse a professora Kathleen Collins, coordenada da pesquisa.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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