02/06/2016

Operar ou não operar: recomendações de cirurgiões variam amplamente

Com informações da UCLA
Operar ou não operar: recomendações de cirurgiões variam amplamente
Em contraste com a "ordens médicas" de outrora, hoje já se reconhece que os médicos não podem decidir sozinhos: Especial "Não, Doutor": Não deixe que seu médico faça...[Imagem: Norbert Kaiser/Wikimedia]

Risco incerto

Ao tomar uma decisão e orientar um paciente, o que um cirurgião leva em conta para escolher entre operar ou recomendar uma opção alternativa de tratamento?

O resultado preocupante é: cada cirurgião parece usar sua própria "visão de mundo", com avaliações de risco para um mesmo procedimento que variam de 0 a 100% entre diferentes profissionais.

Médicos da renomada Universidade da Califórnia de Los Angeles (EUA) chegaram a essa resposta depois de conduzir dois estudos com cirurgiões em pleno exercício de suas funções - os dois estudos foram publicados na revista médica Annals of Surgery.

Riscos e benefícios das cirurgias

Os pesquisadores apresentaram a 779 cirurgiões quatro casos clínicos hipotéticos, nenhum dos quais tinha uma melhor opção de tratamento óbvia - isquemia mesentérica, hemorragia gastrointestinal, obstrução intestinal e apendicite.

Na primeira abordagem, os cirurgiões discordaram largamente em suas recomendações para a cirurgia, e isso em grande parte porque eles diferem em sua percepção dos riscos e benefícios de operar contra não operar.

As estimativas desses riscos e benefícios variaram amplamente entre os cirurgiões. Ao avaliar as consequências da possibilidade, por exemplo, de que um paciente poderia sofrer uma complicação grave, alguns cirurgiões estabeleceram um risco zero para um determinado procedimento, enquanto outros chegaram a ver uma chance de 100% de complicação desse mesmo procedimento.

"Estes resultados sugerem que os cirurgiões estão comunicando aos seus pacientes estimativas muito diferentes sobre os riscos e benefícios do tratamento, e a probabilidade de um paciente passar pela cirurgia depende largamente da forma como o cirurgião percebe esses riscos e benefícios," disse o Dr. Greg Sacks, idealizador do estudo.

Calculadora de risco cirúrgico

Com tamanha variação, a equipe então decidiu analisar o que aconteceria se os cirurgiões usassem uma calculadora de risco cirúrgico, um programa de computador desenvolvido pela entidade American College of Surgeons, chamado Programa Nacional de Melhoramento da Qualidade das Cirurgias.

Ao se basear em dados de um registro nacional para avaliar as chances de complicações pós-operatórias com base no tipo de cirurgia, dados demográficos do paciente e o estado de saúde de um paciente, o software tem como objetivo reduzir os riscos de que os cirurgiões recomendem cirurgias desnecessárias ou com risco excessivo.

A ferramenta ajudou a reduzir a discrepância entre os cirurgiões sobre os riscos dos procedimentos, mas ela tem o grande inconveniente de não levar em conta qualquer alternativa à cirurgia.

"Calculadoras de risco são uma ferramenta útil para informar pacientes e cirurgiões sobre os riscos envolvidos com a operação," disse Sacks. "No entanto, nossos dados sugerem que as decisões cirúrgicas podem ser ainda melhoradas por ferramentas de decisão que também forneçam estimativas de outros parâmetros importantes, tais como os riscos e benefícios de não operar."

A mensagem para levar para casa desses dois estudos, conclui o médico, é que pode nem sempre haver respostas claras sobre o melhor tratamento. Por essa razão, os pacientes podem se beneficiar se se envolverem no processo de tomada de decisão. Em outras palavras, não deixe o médico decidir sozinho.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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