12/05/2022

Placas ateroscleróticas conversam com o cérebro por circuito exclusivo

Redação do Diário da Saúde
Placas ateroscleróticas conversam com o cérebro por circuito exclusivo
Mapeamento de parte do circuito que interliga as placas ateroscleróticas e o cérebro. [Imagem: Sarajo K. Mohanta et al. - 10.1038/s41586-022-04673-6]

Intercomunicação

Pesquisadores descobriram uma conexão entre as placas ateroscleróticas e o sistema nervoso central.

Este "circuito", desconhecido até agora, envolve três tecidos que atuam sistemicamente, o sistema imunológico, o sistema nervoso e o sistema cardiovascular.

E esta "conversa cruzada" entre órgãos é funcional, uma vez que a interferência no sistema nervoso afeta a progressão da aterosclerose, conforme demonstrado em modelos experimentais.

Isso significa que este circuito pode se tornar um alvo para terapias inovadoras para os problemas cardiovasculares.

Placas ateroscleróticas

Compostas por um acúmulo de colesterol, tecido fibroso e células imunes, as placas representam a marca registrada da aterosclerose.

As consequências, que podem ir de um ataque cardíaco ou acidente vascular cerebral à doença de oclusão arterial periférica, constituem a principal causa de mortes em todo o mundo.

"Quando há uma placa aterosclerótica," explica a professora Daniela Carnevale, da Universidade Sapienza de Roma, "também se formam agregados de células imunes no tecido conjuntivo externo do vaso sanguíneo, chamado adventícia. Curiosamente, esses agregados apresentam semelhanças com um linfonodo que, em condições saudáveis, regulam nossas respostas imunológicas.

"É importante ressaltar que o tecido conjuntivo que envolve as artérias é rico em fibras nervosas que, como nosso trabalho mostrou agora, estabelecem uma conexão direta entre a placa e o cérebro. Na verdade, esse tecido adventício é usado pelo sistema nervoso como principal canal para atingir todos os órgãos do corpo," completou.

Desligando o circuito

Identificado o circuito, os pesquisadores reconstruíram todo o trajeto das fibras nervosas, até o sistema nervoso central.

"Nesse ponto," continuou Carnevale, "pudemos ver que os sinais vindos da placa, uma vez que chegam ao cérebro, influenciam o sistema nervoso autônomo através do nervo vago (a parte do sistema nervoso que controla a maioria dos nossos órgãos e funções viscerais) até o baço. Aqui, células imunes específicas são ativadas e entram na circulação sanguínea, levando à progressão das próprias placas."

Assim, trata-se de um circuito real, batizado pelos pesquisadores de "ABC", na sigla em inglês para "circuito artéria-cérebro" (artery-brain circuit).

Como todos os circuitos, este pode ser desconectado ou controlado. "Nós fizemos experimentos adicionais," acrescentou a pesquisadora, "interrompendo as conexões nervosas em direção ao baço. Dessa forma, os impulsos nas células imunes presentes nesse órgão são interrompidos. O resultado dessa interrupção terapêutica é que as placas nas artérias não só retardaram seu crescimento, mas também estabilizaram, tornando a doença menos grave."

O próximo passo da pesquisa será fazer a tradução da descoberta em laboratório para a prática clínica, em benefício de todos os pacientes com riscos cardiovasculares.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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