23/08/2011

O poder dos placebos - até 60% dos médicos acreditam em sua eficácia

Katherine Gombay

Receitando placebos

Os psiquiatras canadenses parecem estar mais preparados do que quaisquer outros médicos para reconhecerem os benefícios dos placebos.

Eles podem até se sentir desconfortáveis em falar sobre isso, mas definitivamente estão tirando proveito desses benefícios.

Um estudo realizado pela equipe do Dr. Amiz Raz, da Universidade McGill, mostra que um em cada cinco doutores - médicos e psiquiatras em escolas médicas canadenses - já prescreveram ou administraram placebo para seus pacientes.

E uma proporção ainda maior dos psiquiatras (mais de 35 por cento) relataram prescrever doses subterapêuticas de medicamentos para o tratamento de seus pacientes - ou seja, doses que estão abaixo, por vezes, consideravelmente abaixo, do nível mínimo recomendado.

Placebos entre psiquiatras

E a prescrição dos pseudoplacebos - isto é, tratamentos que, em princípio, são ativos, mas que dificilmente serão eficazes para a patologia a ser tratada, por exemplo, o uso de vitaminas para tratar a insônia crônica - é ainda mais disseminada.

O Dr. Raz e seus colegas sugerem que isso pode estar ocorrendo porque os médicos têm-se mostrado mais dispostos a prescrever materiais bioquimicamente ativos, embora em doses mais baixas do que poderia ser eficaz.

A pesquisa, que também foi concebida para estudar as atitudes dos médicos frente ao uso dos placebos, revelou que a maioria dos psiquiatras entrevistados (mais de 60 por cento) acredita que os placebos podem ter efeitos terapêuticos.

Esta é uma proporção significativamente maior do que a verificada entre médicos de outras especialidades. "Os psiquiatras parecem dar mais valor à influência que os placebos exercem sobre a mente e o corpo", diz Raz.

Apenas 2% dos psiquiatras acreditam que os placebos não têm nenhum benefício clínico.

Expectativas e enganos

O interesse do próprio Dr. Raz em relação aos placebos veio de seu trabalho em três áreas muito diferentes: seus estudos sobre como a fisiologia das pessoas é influenciada por suas expectativas do que está para acontecer, seu trabalho sobre o auto-engano, e seu treinamento como mágico.

Juntas, essas três áreas distintas da experiência de Raz levaram-no a explorar o que continua a ser um terreno incômodo da prática médica para muitos profissionais - o uso de placebos na medicina - justamente por suas ligações com as expectativas e, mais eticamente problemático, o engano.

"Enquanto a maioria dos médicos provavelmente valorize o mérito clínico dos placebos, orientações técnicas e conhecimentos científicos limitados, bem como as considerações éticas, impedem a discussão aberta sobre a melhor maneira de re-introduzir os placebos no meio médico", diz Raz.

"Esta pesquisa fornece um valioso ponto de partida para futuras investigações sobre as atitudes dos médicos [...] e para a utilização dos placebos," conclui.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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