17/08/2009
Psicóticos que moram com a família procuram ajuda mais rápido
Beatriz Flausino - Agência USP
O transtorno psicótico é caracterizado por delírios (pensamentos que não condizem com a realidade, como medo de perseguição) e alucinações (ouvir vozes, ver objetos e coisas inexistentes). [Imagem: Ag.Usp]
Procurando ajuda
Morar com a família faz com que os psicóticos procurem ajuda mais rápido. Essa é uma das conclusões de um estudo realizado na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), desenvolvido pela terapeuta ocupacional Alexandra Martini de Oliveira.
A pesquisa mostrou que o tempo médio que um paciente desse tipo leva para entrar em contato com o serviço de saúde é de 4,1 semanas a partir dos primeiros sintomas psicóticos.
Transtorno psicótico
O transtorno psicótico é caracterizado por delírios (pensamentos que não condizem com a realidade, como medo de perseguição) e alucinações (ouvir vozes, ver objetos e coisas inexistentes). O psicótico pode apresentar, também, desorganização no pensamento e na fala.
Quanto mais tempo demora o diagnóstico e tratamento da psicose, maior a chance de o paciente ter uma evolução ruim da doença (resistência a medicação, sintomas psicóticos mais graves). Alexandra explica que, de acordo com alguns estudos "a psicose é 'neurotóxica', pois ela causa alterações químicas que acabam matando neurônios e a pessoa com psicose, que fica muito tempo sem tratamento, pode tornar-se mais resistente ao tratamento medicamentoso".
Resultados
Alexandra observou que "as pessoas que demoram mais para entrar em contato com serviços de saúde, geralmente não moram com a família, têm declínio do funcionamento social, que é o mesmo que dizer que saem menos de casa, deixam de ir a reuniões familiares, a festas, a igreja."
O estudo envolveu 200 pacientes. Destes, 105 (52%) eram mulheres. A média de idade foi de 32,3 anos, e 165 (82,5%) moravam com familiares. Outros 148 participantes (74%) haviam feito o primeiro contato em serviços de emergência, enquanto 122 (61,0%) apresentaram diagnóstico de psicose não-afetiva e 78 (39%) de psicose afetiva. Entre os envolvidos, 106 (53,%) apresentaram funcionamento social "muito bom ou bom". Os participantes que não trabalhavam demoraram duas vezes mais para procurar serviços de saúde do que os que tinham ocupação.
Transtornos afetivos
A psicose pode ou não estar associada a sintomas afetivos (relacionados às alterações patológicas do humor), quando não associada a psicose é nomeada não-afetiva. Os transtornos psicóticos afetivos incluem, além dos sintomas psicóticos, transtorno bipolar e depressão.
Os pacientes com transtornos psicóticos não-afetivos demoraram quase duas vezes mais a procurar ajuda médica do que os pacientes com transtornos psicóticos afetivos. Alexandra acredita que isso tem relação com o fato de os transtornos afetivos terem um início mais abrupto e serem mais facilmente identificáveis.
Em relação aos homens, as mulheres tiveram menos anos de escolaridade e menor renda. Entre as mulheres também foi mais frequente o diagnóstico de transtorno psicótico afetivo, além de terem melhor funcionamento social e melhores níveis de percepção sobre a própria doença, quando comparadas com os homens.
Transtornos psicóticos não-afetivos
O período de psicose sem tratamento não se mostrou associado, nesse estudo, estatisticamente à idade, gênero, escolaridade, situação conjugal, condição econômica e religião. A pesquisadora considera que isso pode estar relacionado ao fato de que a amostragem do estudo ainda é pequena. "Talvez num estudo mais amplo, nós conseguíssemos perceber melhor em que essas características influenciam", explica.
Conclusões de outros estudos internacionais sobre o mesmo assunto se confirmaram na pesquisa de Alexandra. Os participantes com transtornos psicóticos não-afetivos apresentaram pior funcionamento social, maior gravidade dos sintomas e pior percepção sobre a própria doença.
A pesquisadora considera que seu estudo mostrou quanto o papel da família no diagnóstico e procura de tratamento é importante para pacientes com transtornos psicóticos. Ela afirma que é importante perceber mudanças de comportamento nos familiares e encará-las sem preconceito. O estudo foi orientado pela professora Márcia Scazufca, da FMUSP.
Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br
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