31/01/2020

Questionada associação entre vírus do herpes e doença de Alzheimer

Redação do Diário da Saúde
Questionada associação entre vírus do herpes e doença de Alzheimer
Pesquisas sobre a infecção de neurônios por vírus tiveram um impulso com o estudo agora desmentido.[Imagem: Hem Chandra Jha/University of Pennsylvania]

HPV e Alzheimer

Pesquisadores afirmam ter colhido evidências convincentes para refutar qualquer ligação entre o aumento dos níveis do vírus do herpes e a doença de Alzheimer.

"Como todos os tipos de demência, a doença de Alzheimer é caracterizada pela morte maciça de células cerebrais, os neurônios. Identificar a razão pela qual os neurônios começam e continuam a morrer no cérebro dos pacientes com doença de Alzheimer é uma área ativa de pesquisa," contextualizou o Dr. Zhandong Liu, na Faculdade de Medicina Baylor (EUA).

Há vários anos alguns patologistas têm levantado a hipótese de uma associação entre o vírus do herpes e o Mal de Alzheimer. Mais recentemente, a teoria de que certas infecções, como as causadas por vírus, podem desencadear a doença de Alzheimer ganhou força.

Um estudo publicado em 2018 relatou níveis aumentados de de HPV-6A (herpes-vírus humano 6A) e HPV-7 (herpes-vírus humano 7) nos tecidos cerebrais post-mortem de mais de 1.000 pacientes com doença de Alzheimer, quando comparados aos tecidos cerebrais de indivíduos saudáveis ou com idade avançada sofrendo de uma condição neurodegenerativa diferente.

Esse estudo gerou uma onda de excitação e levou ao início de vários estudos para entender melhor a ligação entre infecções virais e a doença de Alzheimer.

Valor p

Surpreendentemente, quando a equipe do Dr. Liu reanalisou os conjuntos de dados do estudo de 2018 usando métodos estatísticos idênticos com filtragem rigorosa, além de quatro ferramentas estatísticas comumente usadas, eles não conseguiram reproduzir os resultados e nem as conclusões que a equipe original publicou.

A motivação para reanalisar os dados do estudo anterior surgiu porque o Dr. Liu observou que, embora os valores de p (um parâmetro estatístico que prediz a probabilidade de se obter os resultados observados de um teste, assumindo que outras condições estejam corretas) sejam altamente significativos, eles estavam sendo atribuídos a dados nos quais as diferenças não eram visualmente apreciáveis.

Além disso, os valores de p não se encaixavam na regressão logística simples - uma análise estatística que prediz o resultado dos dados como um dentre dois estados definidos. De fato, após vários tipos de testes estatísticos rigorosos, não foi encontrada a alegada ligação entre a abundância de DNA ou RNA viral do herpes e a probabilidade da presença do Mal de Alzheimer naquela coorte.

"À medida que as tecnologias 'ômicas' de alto rendimento, que incluem as de genômica, proteômica, metabolômica e outras, se tornam acessíveis e facilmente disponíveis, tem havido uma tendência crescente rumo aos megadados na pesquisa biomédica básica. Nessas situações, devido à quantidade enorme de dados que precisam ser minerados e extraídos em pouco tempo, os pesquisadores podem ficar tentados a confiar apenas nos valores de p para interpretar os resultados e chegar a conclusões," disse Liu.

"Embora os valores p sejam um parâmetro estatístico muito valioso, eles não podem ser usados como uma medida independente de correlação estatística - os conjuntos de dados de procedimentos de alto rendimento ainda precisam ser cuidadosamente plotados para que se visualize a propagação dos dados. Os conjuntos de dados também devem ser usados em conjunto com valores p calculados com precisão para fazer associações entre doenças e genes que sejam estatisticamente corretas e tenham significado biológico," acrescentou o pesquisador Hyun-Hwan Jeong.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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