11/04/2022

Resistência à vacina vem de problemas psicológicos na infância

Redação do Diário da Saúde
Resistência à vacina vem de problemas psicológicos na infância
Linha do tempo mostrando como os eventos da vida afetaram as pessoas que relataram ser mais resistentes à vacinação aos 49 anos.[Imagem: Caroline Pate/Duke University]

Psicologia da antivacinação

Uma das grandes questões em aberto hoje é o porquê de algumas pessoas terem assumido posturas antivacinação de forma tão apaixonada e, muitas vezes, com raiva.

Uma equipe de pesquisadores tentou encontrar respostas em uma base de dados muito raros e incomuns, dados que trazem informações sobre a infância de um grande grupo de pessoas - informações do tipo que molda nossa vida adulta.

Terrie Moffitt e seus colegas se voltaram para um banco de dados chamado "Estudo Multidisciplinar de Saúde e Desenvolvimento de Dunedin", que tem acompanhado todas as quase 1.000 pessoas nascidas em 1972 e 1973 em uma cidade da Nova Zelândia.

Desde a infância, os pesquisadores veem medindo vários fatores sociais, psicológicos e de saúde na vida de cada um dos participantes, o que resultou em um fluxo constante de informações sobre como a infância e seu ambiente formam o adulto.

A equipe completou os dados realizando uma pesquisa especial com os participantes em meados de 2021, para avaliar as intenções de vacinação pouco antes de as vacinas contra a covid-19 estarem disponíveis na Nova Zelândia. Em seguida, eles combinaram as respostas de cada indivíduo com o que eles sabem sobre sua criação e o estilo de personalidade dessa pessoa.

Desconfiança desde a infância

Os dados mostraram que muitos dos participantes que disseram agora ser resistentes ou hesitantes quanto à vacinação, na infância, 40 anos atrás, tiveram experiências psicologicamente adversas, incluindo abuso, negligência, ameaças e privações.

"Isto nos sugere que eles aprenderam desde tenra idade 'Não confie nos adultos'," disse Moffitt, atualmente na Universidade Duke (EUA). "[A mensagem que receberam era] 'Se alguém se aproximar de você com autoridade, está apenas tentando conseguir alguma coisa, e não se importa com você, vai se aproveitar'. Foi o que eles aprenderam na infância, com suas experiências crescendo em casa. E esse tipo de aprendizado nessa idade deixa você com uma espécie de legado de desconfiança. É tão profundo que automaticamente traz à tona emoções extremas."

A pesquisa também mostrou que "a desconfiança era generalizada, estendendo-se não apenas a instituições e influenciadores, mas também a familiares, amigos e colegas de trabalho," escreveram os pesquisadores em seu artigo.

Entre 13 e 15 anos, o grupo agora resistente à vacina tendia a acreditar que sua saúde era uma questão de fatores externos, fora de seu controle. Aos 18 anos, os adolescentes que se tornaram os grupos resistentes e hesitantes à vacinação também eram mais propensos a se desligar sob estresse, mais alienados e mais agressivos. Eles também tendiam a valorizar a liberdade pessoal em relação às normas sociais e a serem inconformistas.

"Você só pensa na longa sombra que isso projeta," disse a professora Stacy Wood, da Universidade do Estado da Carolina do Norte, coautora do estudo. "Se sua confiança é abusada quando criança, mais tarde, quatro décadas depois, você ainda não confia. Isso não é trivial. Não vamos contornar isso com uma campanha bacana ou com o endosso de alguma celebridade."

Cuidar das crianças de hoje

O professor Moffitt ressalta que este estudo é limitado pelo fato de ser um autorrelato das intenções de vacinação de apenas um grupo de pessoas, e que qualquer reavaliação da política de saúde deve incluir dados de muitos países.

No entanto, a equipe tem algumas ideias sobre como usar esse conhecimento.

"Os melhores investimentos que poderíamos fazer agora seriam na construção da confiança das crianças e na construção de ambientes estáveis, e garantir que, se o cuidador individual falhar, a sociedade cuidará delas," disse Wood.

"A preparação para a próxima pandemia deve começar com as crianças de hoje," disse o coautor Avshalom Caspi. "Este não é um problema contemporâneo. Você não pode combater a hesitação e a relutância com adultos que cresceram para resistir a isso a vida inteira."

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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