05/07/2013

Como a saúde passou de responsabilidade pública para problema individual

Redação do Diário da Saúde

Hoje, a saúde é uma questão de viver um estilo de vida consciente, conhecendo uma série de riscos, e estar no controle de seu corpo e de sua vida.

Há 100 anos, porém, a saúde não era um assunto privado, mas sim um dever nacional.

Analisando as publicações de saúde dos anos 1910-1913, e então comparando-as com as publicações de 2009, percebe-se claramente como as visões da população sobre a saúde mudaram ao longo do tempo.

"As mudanças na visão sobre a saúde parecem estar intimamente ligadas às mudanças nas visões dos seres humanos. Algumas mudanças são resultado de mudanças nas perspectivas médicas. E algumas são de natureza mais geral e têm a ver com a percepção daquilo que as pessoas devem buscar e com o que deveria ser importante na vida," diz Wilhelm Kardemark, da Universidade de Gotemburgo, na Suécia.

De recurso nacional a responsabilidade individual

Cem anos atrás, a saúde do indivíduo era retratada como um recurso nacional.

Hoje, a saúde tornou-se um assunto privado e algo que está relacionado com a família e amigos mais próximos e, acima de tudo, com os objetivos e esperanças individuais.

Na perspectiva anterior, o que motivava as pessoas a ficarem saudáveis era um sentimento de pertencimento à comunidade, altamente conectada com a religiosidade.

"Muitos dos pressupostos sobre a saúde que vemos nas publicações de saúde da época devem ser vistos em relação a uma visão religiosa do homem. Esta visão implica uma ênfase no trabalho como uma forma de servir os outros, e onde a masculinidade e a saúde estão interligadas," diz o pesquisador.

A visão do corpo humano também sofreu mudanças fundamentais no que diz respeito à visão do homem e da compreensão da saúde.

Hoje, a saúde e o corpo são frequentemente retratados como algo controlável e como questões de escolhas ativas em relação às quais o indivíduo é responsável. Processos a nível celular poderiam ser controlados com um estilo de vida "correto" e hábitos saudáveis.

"As ambições são muitas vezes muito elevadas quando se trata de 'maximizar' e 'otimizar'. Supõe-se que você sempre vai tirar o máximo proveito dos alimentos, dos exercícios e da vida em geral. A palavra-chave é o controle, e isso é alternado com visões que enfatizam a importância de vivenciar o próprio corpo ou de sentir como os exercícios físicos, por exemplo, vão fazê-lo sentir bem," completa.

Segundo o pesquisador, essa mudança na visão da saúde, e a transferência de sua responsabilidade da comunidade para o indivíduo, foi acompanhada muito de perto pelo surgimento de uma nova indústria da saúde e do bem-estar.

Uma indústria que depende de consumidores individuais - e seus medos dos riscos à sua saúde - para garantir seus lucros.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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