08/11/2023

Sons que os médicos ouvem no estetoscópio não são exatamente sons

Redação do Diário da Saúde
Sons ouvidos no estetoscópio podem não ser exatamente sons
Não são ondas sonoras, são mais ondas sísmicas.[Imagem: Alexandre Dizeux/ESPCI]

Sons de Korotkoff

Poucos objetos são tão associados a uma ocupação quanto um estetoscópio à medicina. Assim, esperava-se que os médicos soubessem exatamente o que estão ouvindo quando tiram aquele pequeno objeto dependurado do pescoço e o colocam em seus ouvidos, para auscultar o que anda acontecendo dentro do nosso corpo.

Na verdade, tem havido um debate intenso entre os médicos e cientistas em relação a exatamente o quê no corpo causa toda a variedade de ruídos que um estetoscópio produz - esses "ruídos" são tecnicamente conhecidos como sons de Korotkoff, ou sons de Korotkov - foi o russo Nikolai Korotkov [1874-1920] que inventou a técnica auscultatória para aferir a pressão arterial.

E parece que ao menos parte desses ruídos nem sequer são sons.

"Nossa principal descoberta foi que os sons de Korotkoff não são sons, o que é engraçado," disse Jérôme Baranger, do Instituto de Física Médica de Paris (França).

Em vez disso, os sons de Korotkoff parecem ser uma vibração das paredes arteriais que se transmite aos tecidos circundantes, um fenômeno mais parecido com uma onda sísmica do que com uma onda sonora.

Sons ouvidos no estetoscópio podem não ser exatamente sons
É a primeira vez que os sons corporais são estudados com esse nível de detalhamento e resolução.
[Imagem: Jerome Baranger et al - 10.1126/sciadv.adi4252]

Ondas sísmicas corporais

Os pesquisadores usaram ultrassom ultrarrápido para gerar imagens da geração de sons de Korotkoff. O ultrassom é como uma câmera digital que usa ondas sonoras em vez de luz para tirar fotos. Essa câmera sonora tira essas fotos em altas taxas de quadros - milhares de imagens por segundo - permitindo visualizar fenômenos transitórios acontecendo dentro do corpo em tempo real.

Os movimentos arteriais são geralmente menores que um milímetro, mas os deslocamentos da artéria braquial - que podem exceder cinco milímetros - são facilmente visíveis na ultrassonografia.

Ao analisar os dados coletados de voluntários saudáveis, Baranger descobriu que os sons de Korotkoff, paradoxalmente, não são ondas sonoras que emergem da artéria braquial, mas sim vibrações de cisalhamento transmitidas nos tecidos circundantes. As vibrações de cisalhamento foram correlacionadas e comparáveis em intensidade com os sons de Korotkoff.

Terremoto corporal

À medida que o manguito de pressão arterial infla e pressiona a artéria braquial, a artéria amolece. Quando o coração se contrai, o aumento instantâneo da pressão arterial se propaga pelas artérias em uma onda de pulso. Quando a onda atinge a porção amolecida da artéria braquial, ela desacelera e distende as paredes arteriais moles, fazendo-as vibrar e, à medida que a onda de pulso se propaga sob o manguito, ela gradualmente se transforma em uma onda de choque.

As vibrações da artéria são transmitidas aos músculos circundantes na forma de uma onda de cisalhamento, como um terremoto. Quando esse "terremoto" atinge a superfície do corpo e o estetoscópio, ele faz com que o estetoscópio vibre, o que produz os sons de Korotkoff.

A equipe agora pretende confirmar seus resultados em um estudo com um número maior de voluntários, além de comparar o fenômeno físico medido com ultrassom ultrarrápido com medidas invasivas de pressão arterial. A compreensão desse mecanismo pode, em última análise, melhorar as medições da pressão arterial e fornecer uma compreensão adicional das propriedades mecânicas arteriais.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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