10/03/2009

Terapia gênica mostra-se eficaz contra febre amarela

Fábio de Castro - Agência Fapesp
Terapia gênica mostra-se eficaz contra febre amarela
Pesquisadores brasileiros testam pela primeira vez a metodologia de interferência de RNA contra o vírus da febre amarela. Replicação viral foi reduzida em 97% em experimento in vitro e 50% em camundongos infectados.[Imagem: Fapesp/Divulgação]

Arma contra a febre amarela

Ao testar pela primeira vez a metodologia da interferência de RNA para combater o vírus da febre amarela, um grupo de pesquisadores brasileiros conseguiu inibir 97% da replicação viral em culturas de células e mais de 50% em camundongos.

O estudo, publicado na revista norte-americana Virus Genes, foi coordenado por Maurício Lacerda Nogueira, do Laboratório de Pesquisas em Virologia (LPV) da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp).

De acordo com Nogueira, os resultados reforçam a possibilidade de utilização do modelo da interferência de RNA para desenvolvimento de uma arma terapêutica específica para a febre amarela.

Terapia gênica

"Dominamos a metodologia - que já havia sido utilizada para outros vírus da família dos flavivírus - e tínhamos interesse em aplicá-la a um vírus importante para o Brasil, que é o da febre amarela. O objetivo, no futuro, é desenvolver uma terapia gênica", disse Nogueira à Agência FAPESP.

Segundo ele, embora a vacina disponível para a febre amarela seja eficiente, não existe medicação contra a doença, cuja presença voltou a crescer no Brasil. "Quem contrai a doença recebe um tratamento de suporte, pois não há uma terapia específica", disse.

O que é interferência de RNA?

Na interferência de RNA, sequências exógenas homólogas e complementares ao RNA do vírus são introduzidas nas células. No citoplasma, elas interagem com o RNA do vírus, induzindo a célula a reconhecer a presença do patógeno. Com isso, são acionados os mecanismos naturais que degradam o RNA do vírus, controlando a infecção.

De acordo com Nogueira, o estudo consistiu em uma prova de conceito, com o objetivo de demonstrar a viabilidade da metodologia para a febre amarela. "Fizemos um estudo do genoma do vírus, identificando regiões que pudessem ser alvos terapêuticos e, a partir daí, testamos essas construções tanto in vitro como in vivo", afirmou.

Na cultura de células, a técnica inibiu 97% da replicação viral. Nos animais adultos infectados e tratados com a interferência de RNA, a resposta chegou a 50%. Segundo o pesquisador, o fato de a resposta nos modelos animais não ser tão boa como no modelo in vitro é inerente à terapia gênica em geral.

"A maior dificuldade é garantir que o material genético esteja na célula certa na hora certa. Essa precisão na 'entrega' do tratamento é o principal gargalo da terapia gênica. Mesmo assim, consideramos que a resposta foi bastante significativa", afirmou.

Testes em primatas

O professor da Famerp explica que os camundongos foram infectados com uma dose dez vezes maior do que a dose letal do vírus. "Nos camundongos, o vírus não causa a febre amarela, mas provoca uma encefalite que leva o animal à morte", disse.

Os macacos, segundo Nogueira, seriam os modelos ideais para o estudo, por manifestarem a doença, mas testes com primatas são caros demais para o atual estágio de desenvolvimento da metodologia.

"Será necessário, antes de mais nada, aprimorar as soluções para a 'entrega' da terapia gênica. Depois, vamos poder testar em macacos. Até lá, será preciso investir durante alguns anos em pesquisa básica. Por enquanto, o modelo de encefalite é a melhor alternativa de baixo custo", disse.

Premiação

A primeira autora do artigo, Carolina Pacca, recebeu, por sua contribuição ao estudo, o prêmio de Melhor Mestrado de 2008 da Sociedade Brasileira de Virologia. A pesquisadora do LPV, durante a realização da pesquisa, era orientanda de Nogueira na Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Além de Nogueira e Carolina, participaram também do estudo Adriana Severino, Adriano Mondini, Paula Rahal, Solange D'Ávila, José Antonio Cordeiro, Mara Correa Lelles Nogueira e Roberta Bronzoni.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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