04/08/2021

O que torna uma transação comercial moralmente repugnante?

Redação do Diário da Saúde

O que não se pode vender

Você estaria disposto a vender um rim, ou ser pago para passar um tempo em um encontro com uma pessoa desconhecida?

Se não, você não está sozinho. Muitas pessoas acham moralmente repugnante a ideia de vender e comprar órgãos humanos, doutorados, o direito de adotar crianças e várias outras coisas.

Mas, além das convenções sociais, quais são os mecanismos psicológicos por trás desses sentimentos? Quais aspectos de uma transação as pessoas consideram mais repugnantes?

"Nosso objetivo era descobrir as diretivas psicológicas dos sentimentos de repugnância das pessoas em relação a essas transações," explica a professora Christina Leuker, do Instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano (Alemanha). "Uma vez que saibamos o que torna uma transação de mercado moralmente repugnante aos olhos do público, estaremos em uma posição melhor para prever como as pessoas podem responder a novas transações, como aquelas decorrentes de avanços tecnológicos no campo da engenharia genética humana."

Repugnância social

Para iluminar a psicologia da repugnância social, a equipe fez duas pesquisas, nas quais 1.554 voluntários julgaram 51 transações de mercado em termos de 22 características, incluindo a repugnância. Entre os pontos abordados estavam até que ponto a transação provoca raiva ou repulsa, se ela é considerada prejudicial à sociedade, se afeta a dignidade do vendedor ou se deixa as pessoas expostas à exploração.

As duas pesquisas apresentaram padrões semelhantes de julgamentos de repugnância entre os entrevistados. Três transações - venda de direitos para caçar animais ameaçados de extinção, venda de noivas e venda de direitos de voto - geraram a mais forte desaprovação coletiva.

Além disso, os pesquisadores identificaram cinco aspectos que parecem estar subjacentes aos sentimentos de repugnância. O principal deles é o ultraje moral: Quanto mais ultraje moral uma transação desencadeia, mais repulsa e raiva as pessoas sentem, menos empatia elas têm por aqueles que estão envolvidos na transação, e mais elas pensam que a transação é prejudicial para a sociedade.

Os quatro outros fatores de repugnância identificados foram: (1) até que ponto as pessoas desejam que uma transação seja regulamentada; (2) até que ponto o valor de uma transação pode ou não ser convertido em um valor monetário; (3) até que ponto a transação pode explorar indivíduos desfavorecidos; e (4) até que ponto os vendedores estão expostos a riscos desconhecidos ou são incapazes de antecipar totalmente as consequências da transação.

Ações contra transações comerciais repugnantes

Os pesquisadores também identificaram incompatibilidades entre a repugnância julgada de uma transação e seu status legal atual.

"Por exemplo, os entrevistados do Reino Unido consideraram o comércio de emissões de carbono e a venda de licenças para atirar em animais raros altamente repugnantes, embora ambos sejam legais em seu país," disse Leuker. "Tais incompatibilidades podem ser motivos para os formuladores de políticas reavaliarem essas transações."

"As transações que provocam graus semelhantes de repugnância pública podem fazer isso por razões muito diferentes - e isso tem implicações para as intervenções políticas," disse o pesquisador Ralph Hertwig. "Por exemplo, se o motivador principal de repugnância em relação a uma transação é que ela deixa indivíduos desfavorecidos abertos à exploração, uma resposta política eficaz pode ser voltada para proteger aqueles que são vulneráveis. Se o risco desconhecido for a principal causa de repugnância, a política pode, em vez disso, concentrar-se em reduzir e comunicar claramente os riscos potenciais."

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

URL:  

A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos.
Copyright 2006-2023 www.diariodasaude.com.br. Cópia para uso pessoal. Reprodução proibida.