25/01/2021

Usar o pronome você genérico aumenta força das afirmações

Redação do Diário da Saúde
Usar o pronome
Nem todos vão sucumbir a uma eventual falta de argumentos, mas o você genérico mostrou um poder inesperado. [Imagem: Niek Verlaan/Pixabay]

Você genérico

Na literatura, os escritores costumam usar a palavra "você" genericamente para fazer uma ideia parecer mais universal - mesmo que ela não seja.

Agora, pesquisadores mostraram que esse recurso linguístico tem ainda mais poder do que se imaginava: Ele faz as ideias "ressoarem", evocando emoções ou apelando para as crenças de quem ouve a mensagem que contém o que eles chamam de "você genérico".

O tal você genérico refere-se ao uso do pronome sem uma intenção direta de referir-se especificamente à pessoa que lê, mas a qualquer pessoa em geral.

"Em vez de expressar informações que se aplicam a uma situação particular (por exemplo, 'Leo partiu seu coração'), o você genérico expressa informações que são atemporais e se aplicam em qualquer contexto (por exemplo, 'Com o tempo, você se recupera de um coração partido')," escrevem os pesquisadores, citando ainda outro exemplo : "Você não consegue entender alguém antes de caminhar um quilômetro no lugar dela".

Marca-texto

A equipe começou usando dados disponibilizados publicamente pelos leitores de livros eletrônicos, e observou que muitas das passagens que os leitores marcavam em destaque usavam o você genérico, revelando um padrão sistemático.

"Isso foi tão empolgante para nós porque, há muito tempo, tínhamos a intuição de que o 'você' genérico pode ter efeitos interpessoais; pode atrair o ouvinte ou destinatário a uma ideia e talvez aumentar a empatia ou até a extensão que uma pessoa pode se relacionar com uma ideia que outra pessoa estava expressando," explicou a pesquisadora Ariana Orvell, da Universidade de Michigan (EUA). "Encontrar essas passagens em livros foi uma maneira perfeita no mundo real de obter alguns insights sobre esse efeito."

As passagens destacadas tinham 8,5 vezes mais probabilidade de conter "você" genérico do que passagens que não foram destacadas, mostrando que o você genérico é um dispositivo linguístico que aumenta a ressonância, fazendo as pessoas prestarem mais atenção na mensagem e achá-la mais importante.

"Este estudo é um exemplo muito bom de como as pessoas são sensíveis até mesmo a uma variação sutil de perspectiva e linguagem," comentou a professora Susan Gelman. "Tenho certeza de que as pessoas que estão lendo esses romances não estavam pensando sobre o dispositivo linguístico que os autores estavam usando, e os próprios autores podem não estar cientes, mas este estudo mostra que esse dispositivo linguístico tem um efeito mensurável e que faz parte do tecido da linguagem e do pensamento ao qual as pessoas são sensíveis."

Linguagem para influenciar

Em quatro experimentos de acompanhamento, os pesquisadores submeteram suas conclusões a mais quatro testes para confirmar que a presença do você genérico no texto tem um efeito causal em aumentar o quanto as ideias ressoam.

Para examinar a frequência com que os leitores destacavam as passagens "você", os pesquisadores analisaram 1.120 passagens de 56 livros de ficção originalmente escritos em inglês e publicados depois de 1900. Coletivamente, as passagens foram destacadas mais de 250.000 vezes.

O você genérico apareceu em 26% das passagens destacadas, em comparação com apenas 3% das passagens de controle não destacadas. E 40% das passagens destacadas continham pelo menos um indicador de "pessoas genéricas", isto é, o uso genérico de "pessoas" - em comparação com apenas 6% das passagens de controle não destacadas.

"Acho notável que essa pequena mudança linguística influencie o quanto as ideias ressoam," disse o professor Ethan Kross. "Essas descobertas mostram como as mudanças sutis na linguagem podem ser poderosas para influenciar a maneira como as pessoas entendem o mundo."

A equipe agora pretende verificar se o mesmo efeito ocorre em outros idiomas, bem como estudar seus efeitos em crianças e em outros usos, como postagens em mídias sociais.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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