27/09/2012

Brasileiros desenvolvem vacina contra doença causada por fungo

Com informações da Agência Fapesp
Brasileiros desenvolvem vacina contra doença causada por fungo
Causada pelo fungo Paracoccidiodes brasiliensis, comum em áreas rurais, a doença causa um processo inflamatório crônico que leva à formação de fibrose nos tecidos afetados.[Imagem: Agência Fapesp]

Contaminação inalatória

Pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP) estão testando uma nova estratégia de vacinação contra uma doença pouco conhecida, mas potencialmente incapacitante: a paracoccidioidomicose.

Como a principal forma de contágio é a inalatória, a sequela mais comum é a doença pulmonar obstrutiva crônica.

Mas o fungo também pode afetar pele, boca, laringe, baço e fígado, além de se infiltrar nos ossos, nas articulações e no sistema nervoso central.

"Os tratamentos existentes são demorados, muitas vezes requerem a internação do paciente e causam efeitos colaterais importantes. Por isso, apostamos em uma vacina terapêutica, capaz de estimular o sistema imunológico a combater a doença.

"Mas também estamos testando a vacina em um protocolo profilático, para ver se ela é capaz de prevenir a infecção", disse Suelen Silvana dos Santos, que está estudando a vacina juntamente com o Dr. Sandro Rogério de Almeida.

Paracoccidioidomicose

Causada pelo fungo Paracoccidiodes brasiliensis, comum em áreas rurais, a paracoccidioidomicose causa um processo inflamatório crônico que leva à formação de fibrose nos tecidos afetados.

Estima-se que existam 10 milhões de infectados pelo Paracoccidiodes brasiliensis na América Latina - concentrados no Brasil, na Argentina, na Venezuela e na Colômbia.

Desses, apenas 2% desenvolvem a doença, fato geralmente associado a carência alimentar, alcoolismo, tabagismo ou doenças preexistentes.

Quando a micose se manifesta, no entanto, torna-se um problema de saúde pública, pois a mortalidade é alta e quem sobrevive fica, muitas vezes, incapacitado para o trabalho.

Vacina terapêutica

Segundo Suelen, 90% dos casos correspondem à forma crônica de paracoccidioidomicose, que leva anos para se desenvolver e provocar sintomas clínicos. Mas a doença também pode se manifestar de forma aguda, que é mais mais agressiva e afeta principalmente os jovens.

A principal droga usada hoje na fase mais grave da doença é a anfotericina B, que é altamente tóxica e requer longo período de hospitalização. Após a alta, o paciente precisa de acompanhamento para avaliar a função hepática e renal, além de tratamentos adicionais para evitar recaídas.

"Por esse motivo apostamos na vacina terapêutica. A estratégia é direcionar um antígeno do fungo às células dendríticas, capazes de desencadear no organismo uma resposta imunológica específica contra o Paracoccidiodes brasiliensis", explicou Suelen.

Memória imunológica

As células dendríticas são peças-chave do sistema imunológico. Após fagocitarem os antígenos, elas migram para os órgãos linfoides e apresentam os invasores para as chamadas células T, responsáveis pela resposta imunológica adaptativa - específica para cada doença.

Quando o antígeno é apresentado às células T, cria-se uma memória imunológica que, uma vez debelada a doença, impede uma nova infecção.

"Se conseguirmos enviar o antígeno diretamente às células dendríticas, evitamos desencadear uma resposta imunológica exacerbada e não direcionada, o que poderia destruir as células dos tecidos afetados pelo fungo", afirmou Suelen.

Para isso, os pesquisadores desenvolveram um anticorpo batizado de anti-DEC205, capaz de se ligar somente aos receptores das células dendríticas. A esse anticorpo foi fusionado um peptídeo do fungo conhecido como P10.

"O P10 é uma sequência de aminoácidos retirada da principal lipoproteína do fungo, a GP43. Ele funciona como um antígeno, ou seja, induz uma resposta imunológica específica contra o fungo", explicou Suelen.

Tanto a GP43 como o P10 foram descobertos em uma série de pesquisas realizadas desde a década de 1980, sob coordenação de Luiz Rodolpho Travassos, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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