17/08/2009

Como os médicos estão protegendo suas próprias famílias da gripe A?

Redação do Diário da Saúde
Como os médicos estão protegendo suas próprias famílias da gripe A?
Quais medidas os especialistas, médicos e cientistas que trabalham na área de saúde, estão tomando para defender a si próprios e as suas famílias da gripe A?
[Imagem: Hamed Saber]

Alta disseminação e baixa mortalidade

Passaram-se apenas cinco meses desde que a gripe A, causada pelo vírus H1N1, revelou-se ao mundo, com o surgimento dos primeiros casos no México.

Esses cinco meses foram suficientes para que o vírus se espalhasse por todo o mundo, mostrando ter um poder de disseminação maior do que qualquer previsão inicial. Felizmente, os dados mostram também que a taxa de mortalidade entre os infectados com o H1N1 é bastante baixa.

Mutação do vírus H1N1

A grande preocupação agora é a possível mutação do vírus, como aconteceu com a gripe espanhola em 1918, dando origem a uma cepa muito mais agressiva. Os especialistas temeram que isso tivesse acontecido quando surgiu um surto particularmente forte na Argentina. Mas o sequenciamento genético mostrou que isso ainda não aconteceu.

Como médicos e cientistas protegem suas famílias?

E se acontecer? E, mesmo se não acontecer, quais medidas os especialistas, médicos e cientistas que trabalham na área de saúde, estão tomando para defender a si próprios e as suas próprias famílias?

Para descobrir a resposta, a revista New Scientist selecionou 60 dos maiores especialistas do mundo envolvidos com a gripe A e enviou-lhes três questões:

  1. Você está preocupado com o aumento da virulência do H1N1?
  2. Você acredita que a infraestrutura hospitalar do seu país está preparada para lidar com o problema se isso acontecer?
  3. Quais medidas de precaução você está tomando para proteger a si próprio e à sua família?

O exercício não pretende ser científico, diz a revista. O objetivo foi simplesmente capturar a opinião de cada um no atual estágio da pandemia e verificar suas preocupações pessoais. Afinal, uma coisa é dar uma orientação de natureza geral, voltada para toda a população. Outra coisa é cuidar da própria família.

Qual é a probabilidade do H1N1 tornar-se mais virulento?

A maioria dos pesquisadores não descartou a possibilidade de uma mutação do vírus da gripe A que o torne mais agressivo e mais mortal. Dois terços afirmaram que isso é possível, mas apenas uma pequena proporção disse que é provável que isso aconteça.

Laurence Tiley, virologista da Universidade de Cambridge, afirmou em sua resposta que não vê razões para esperar que o H1N1 se torne substancialmente mais virulento. Segundo ele, houve muito poucas pandemias até hoje para que se possa fazer uma previsão concreta e com bases científicas.

Vírus mutante e vírus híbrido

Se o vírus sofrer uma mutação, todo o trabalho feito até agora para o desenvolvimento de uma vacina será perdido, sendo necessário começar do zero a partir da identificação do vírus modificado.

Uma preocupação maior entre os cientistas é a possibilidade do surgimento de um vírus híbrido, que poderia emergir a partir da infecção com H1N1 de pessoas portadoras do H5N1, da gripe aviária, que é muito mais letal - a mortalidade da gripe aviária alcançou 30% dos infectados.

Protegendo a si próprios e suas famílias

Com todas essas dúvidas e possibilidades, estariam os médicos e cientistas preocupados o suficiente para tomar medidas para proteger a si próprios e às suas famílias além das medidas básicas passadas à população em geral?

Eles estão divididos. Metade diz que não tomou nenhuma medida adicional, apontando diversas razões: alguns acreditam ser improvável o surgimento de um surto de gripe A realmente sério, enquanto outros afirmam que poderiam ter acesso fácil aos medicamentos, se isso fosse necessário.

A outra metade dos médicos e cientistas está tomando ao menos uma medida adicional para se precaver contra a gripe A. Essas medidas, que variaram entre os diversos especialistas, incluem a aquisição antecipada dos antivirais à base de fosfato de ozeltamivir, para eles próprios e para suas famílias, além de outros antibióticos para tratamento de infecções oportunistas.

Uma outra parcela da metade mais prevenida tomou a vacina contra pneumonia, que geralmente ocorre como uma infecção secundária nos pacientes acometidos pela gripe A (H1N1).

Alguns deles, talvez excessivamente precavidos, afirmaram ter estocado até comida e água em suas casas. É importante ressaltar estas medidas foram relatadas por médicos e cientistas principalmente do hemisfério norte, onde se espera que a gripe A se dissemine mais com a chegada do inverno. No Brasil e demais países do hemisfério sul, estamos quase saindo desse período, que terminará com a chegada da primavera, em Setembro.

"Pela graça de Deus"

Embora tenham sido ouvidos especialistas de países ricos e pobres, cerca de dois terços daqueles que tomaram medidas de precaução vivem nos países ricos, principalmente Estados Unidos, Europa Ocidental, Japão e Austrália. Por outro lado, um respondente da África resumiu suas preocupações: "Estamos totalmente dependentes da graça de Deus para nos defendermos da gripe."

Alguns dos médicos e cientistas que tomaram providências parecem ter sido motivados mais pela preocupação de que os estoques dos medicamentos se esgotem do que pela gravidade da doença.

Medidas individuais e medidas para o público

Um dos cientistas que analisou os resultados da pesquisa afirmou estar surpreso que poucos médicos e cientistas relataram ter estocado o medicamento, já que têm acesso fácil a ele atualmente.

Ações preventivas como esta podem se mostrar alarmantes para os gestores de saúde, porque elas podem alimentar as ansiedades do público. Estocar antivirais, por exemplo, pode fazer sentido para um indivíduo, mas se todos seguirem o conselho o resultado será o fim dos medicamentos, que não chegarão a quem de fato precisará deles.

Riscos incertos

Quando a revista New Scientist pediu para que Marie-Paule Kieny, diretora de pesquisas em vacinas da Organização Mundial da Saúde, comentasse os resultados da pesquisa com os médicos e cientistas, ela afirmou que as respostas mostram uma visão equilibrada da pandemia de gripe A: "Os especialistas parecem ter entendido bem os desafios à frente: eles reconhecem os riscos, mas também as incertezas desses riscos."

Nos próximos meses, as autoridades de saúde não poderão se tornar mais complacentes apenas "porque eles sabem que a vacina está chegando em poucos meses e porque eles têm grandes estoques de Tamiflu em seus freezers," afirmou Walter Fiers, da Universidade de Ghent.

Afinal, se o vírus sofrer uma mutação significativa antes que uma porcentagem grande da população tenha sido vacinada, as vacinas serão inúteis. Mais importante ainda, a resistência ao Tamiflu poderá surgir se a droga for largamente usada em pessoas com sintomas muito suaves. "A situação precisa ser cuidadosamente monitorada," diz Fiers. "A influenza já nos surpreendeu muitas vezes antes."

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