22/06/2012

Ligação entre genética e doenças pode estar errada

Com informações da Clínica Mayo

Atividade dos genes

Pesquisadores estão defendendo a tese de que importantes doenças neurológicas são causadas principalmente por genes que são ativos demais ou não suficientemente ativos, e não por mutações genéticas nocivas.

Segundo eles, algumas centenas de genes, de quase 800 amostras de cérebros de pacientes com a doença de Alzheimer ou outros distúrbios passaram por alterações nos níveis de expressão de genes, que não resultaram de neurodegeneração.

Muitas dessas variantes eram provavelmente a causa a doença.

Se isto estiver correto, a descoberta muda o entendimento da ligação entre genética e as doenças.

"Agora entendemos que a doença provavelmente se desenvolve a partir de variantes de genes que exercem efeitos modestos na expressão dos genes e que também são encontradas em pessoas saudáveis.

"Mas, algumas variantes - elevando a expressão de alguns genes, reduzindo os níveis de outros - se combinam para produzir o tumulto perfeito que leva à disfunção", disse a principal pesquisadora do estudo, a neurologista Nilufer Ertekin-Taner, da Clínica Mayo, nos EUA.

"Se pudermos identificar os genes ligados à doença, que são ativos demais ou inativos demais, poderemos ser capazes de desenvolver novos alvos de medicamentos e terapias," prossegue ela. "Esse poderia ser o caso de doenças neurodegenerativas e também de doenças em geral", prossegue ela.

Genes do cérebro

Ertekin-Taner diz que nenhum outro laboratório realizou um estudo da expressão dos genes do cérebro em tal extensão como o realizado até agora, relatado em um artigo na revista científica Plos One.

"A novidade - e a utilidade - de nosso estudo é o grande número de amostras do cérebro que examinamos e a forma com que as analisamos. Os resultados demonstram a contribuição significativa dos fatores genéticos que alteram a expressão dos genes do cérebro e aumentam os riscos de doença", ela explica.

Essa forma de análise de dados mede os níveis de expressão dos genes, ao quantificar a quantidade de ácido ribonucleico (ARN) produzido no tecido, e faz a varredura do genoma de pacientes, para identificar variantes genéticas que se associam a esses níveis.

Os pesquisadores mediram o nível de 24.526 transcritos (RNA mensageiro) de 18.401 genes, usando tecido de autópsia cerebelar de 197 pacientes com doença de Alzheimer e de 177 pacientes com outras formas de neurodegeneração.

Os pesquisadores confirmaram então os resultados, examinando o córtex temporal de 202 pacientes com doença de Alzheimer e de 197 pacientes com outras patologias.

A diferença entre essas amostras é que, enquanto o córtex temporal é afetado pela doença de Alzheimer, o cerebelo é relativamente poupado.

Marcadores genéticos de doenças

Dessas análises, os pesquisadores identificaram mais de 2.000 marcadores de expressão alterada nos dois grupos de pacientes, que eram comuns entre o cerebelo e o córtex temporal.

Alguns desses marcadores também influenciaram riscos de doenças humanas, sugerindo que contribuem para o desenvolvimento de doenças neurodegenerativas e outras doenças, independentemente de sua localização no cérebro.

Eles identificaram expressões ainda não conhecidas para marcadores genéticos de riscos de doenças, que incluíram paralisia supranuclear progressiva, doença de Parkinson e doença de Paget, além de confirmar outras associações conhecidas para lúpus, colite ulcerativa e diabetes do tipo 1.

"A expressão alterada dos genes do cérebro pode ser ligada a uma diversidade de doenças que afetam todo o corpo", explica a neurologista.

"Esse é um método eficaz para o entendimento das doenças", ela diz. "É possível encontrar novos genes que contribuem para o risco de doenças, bem como novas vias genéticas. E também pode nos ajudar a entender a função de uma grande quantidade de genes e outros reguladores moleculares no genoma que está implicado em doenças muito importantes", afirma.

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