08/04/2013

Ondas neurais questionam divisão do cérebro em áreas específicas

Redação do Diário da Saúde

Cérebro uno

Encorajados por estudos pioneiros que questionaram o paradigma atual das neurociências, mais e mais pesquisas rebatem a visão tradicional de que o cérebro possa ser dividido em áreas especializadas.

Primeiro foi a chamada música cerebral, mostrando que as ondas cerebrais não são apenas "tuntuns" de tambores, mas uma sinfonia completa.

Agora, David Alexander e Cees van Leeuwen, da Universidade de Leuven (Bélgica), deram mais uma demonstração de que a divisão do cérebro em áreas especializadas é rígida demais, e não corresponde à realidade.

Segundo eles, o córtex inteiro é ativado quando uma tarefa é iniciada, e não apenas as áreas tidas como responsáveis por uma determinada função.

Além disso, a atividade neuronal ocorre seguindo um padrão de ondas, que seguem ritmos de um lado do cérebro para o outro - não uma onda cerebral no sentido tradicional, mas um turbilhão de sinais neurais formando um bloco que ondula pelo cérebro.

Questão de escala

Segundo os pesquisadores, é possível estudar o cérebro em diversas escalas, e pode estar faltando uma perspectiva mais ampla para as neurociências.

"Você pode estudar os neurônios, os circuitos entre os neurônios, as áreas de Brodmann - as áreas que correspondem a determinadas funções - e o córtex inteiro. Tradicionalmente os cientistas têm olhado para a atividade local, por exemplo, para a atividade das áreas de Brodmann," disse o Dr. Alexander.

Isto é feito capturando dados de um eletroencefalograma conforme um voluntário faz uma determinada atividade.

Ondas neurais questionam divisão do cérebro em áreas específicas
Estudo é mais uma demonstração de que a divisão do cérebro em áreas especializadas é rígida demais, e não corresponde à realidade.
[Imagem: KU Leuven]

O grupo belga escolheu uma abordagem diferente, capturando sinais do córtex inteiro, e não apenas de partes específicas. E os resultados são muito diferentes.

"Quando percebemos alguma coisa, a informação não morre em uma parte específica do nosso cérebro. Em vez disso, ela é adicionada à atividade já existente no cérebro. Se medirmos a atividade eletroquímica do córtex todo, encontramos um padrão de ondas.

"Este estudo mostra que a atividade cerebral não é local, mas sim uma atividade que se move constantemente de uma parte do cérebro para outra. A atividade local nas áreas de Brodmann só aparece quando você tira a média de muitas dessas ondas," afirmam os pesquisadores.

Ondas únicas

Segundo o grupo, cada onda no córtex cerebral é única.

"Quando alguém repete a mesma ação, como estalar os dedos, o centro motor no cérebro é estimulado. Mas a cada ação individual, você vê uma onda diferente no córtex como um todo. Talvez a pessoa estivesse mais envolvida na ação na primeira vez do que na segunda vez, ou talvez ela tinha outra coisa em sua mente ou teve uma intenção diferente para a ação.

"A direção das ondas também é significativa. Já é evidente, por exemplo, que as ondas de atividades relacionadas com a orientação se movem de forma diferente nas crianças - principalmente de trás para a frente - do que nos adultos. Com mais pesquisas, esperamos desvendar o que essas diferentes trajetórias de onda significam," concluem os pesquisadores.

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