05/04/2013

Seus genes não são mais seus: eles foram patenteados

Redação do Diário da Saúde

Liberdade genômica

Pesquisadores lançaram um alerta sobre o que eles chamam de "perda da liberdade genômica individual".

Segundo eles, em nome de uma pretensa medicina personalizada, as empresas estão patenteando os genes, o que significa que as pessoas de fato não têm mais a propriedade de seus genes.

Isto significa que, se quiserem usar seus próprios genes em um tratamento de saúde, ou examiná-los em um exame preventivo, os pacientes poderão ter que pagar para os donos das patentes.

Tendo registrado mais de 40.000 patentes sobre moléculas de DNA, empresas privadas estão em vias de reivindicar o genoma humano inteiro em nome de seus lucros, afirmam os cientistas em um artigo publicado na revista científica Genome Medicine.

Na verdade, isto já é uma realidade para os chamados genes clinicamente relevantes, ou seja, aqueles que as pesquisas mostraram estar associados a alguma doença - todos já estão patenteados.

Patentes do DNA

Em sua análise, a equipe de pesquisa analisou dois tipos de sequências de DNA patenteadas: fragmentos longos e curtos.

Eles descobriram que 41% do genoma humano já está coberto pelas patentes de cadeias longas de DNA, que muitas vezes cobrem genes inteiros.

Eles também descobriram que, como muitos genes compartilham sequências similares em sua estrutura genética, se todas as sequências curtas forem patenteadas, isso poderia cobrir 100% do genoma humano.

Na verdade, Christopher Mason e Jeffrey Rosenfeld, da Universidade Cornell (EUA), concluem que as sequências curtas já cobertas pelas patentes cobrem o genoma inteiro - mesmo fora dos genes.

"Se essas patentes forem aplicadas, nossa liberdade genômica está perdida." disse o Dr. Mason. "Você tem que se perguntar, como é que o meu médico vai poder olhar para o meu DNA sem se preocupar em violar essas patentes?"

Essa situação já é uma realidade para os cientistas.

"Quase todos os dias, me deparo com um gene que está patenteado - uma situação que é comum para todos os geneticistas em todos os laboratórios," completa o Dr. Mason.

Vida de gado

Uma outra questão de preocupação é que as patentes do DNA podem facilmente atravessar as fronteiras entre as espécies.

Uma empresa pode deter uma patente que recebeu para pesquisas com criação de gado, por exemplo, e essa patente cobre uma grande porcentagem de genes humanos.

Afinal, é nas semelhanças genéticas interespécies que os cientistas se baseiam para experimentar medicamentos humanos em animais - só que agora os interesses se inverteram.

De fato, os pesquisadores descobriram que uma empresa detém os direitos de 84% de todos os genes humanos devido a uma patente recebida para melhoramentos genéticos de bovinos.

"Eu acredito que as pessoas têm um direito inato ao seu próprio genoma, podendo permitir que o seu médico olhe para seu genoma assim como ele faz com os pulmões ou os rins. Um fracasso na solução dessas ambiguidades vai perpetuar uma ameaça direta à liberdade genômica, ou ao direito de cada pessoa sobre seu próprio DNA," conclui o pesquisador.

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