15/11/2013

Revolução na genética: DNA não é único e mutações podem não ser aleatórias

Redação do Diário da Saúde
Revolução na genética: DNA não é único e mutações podem não ser aleatórias
Outros estudos já haviam indicado que as células herdam informações que não estão no DNA.
[Imagem: Mariana Silva/Lars Jansen/IGC]

Scott Williams e Jason Moore, da Universidade de Dartmouth (EUA), fizeram duas descobertas que deverão mudar a forma como a ciência e o público enxergam a genética em geral, e o papel do DNA em particular.

Em primeiro lugar, eles descobriram que uma pessoa pode ter várias mutações do DNA em diferentes partes do corpo, mantendo seu DNA original no restante do organismo, o que resulta em vários genótipos diferentes em um mesmo indivíduo.

Em segundo lugar, eles verificaram que mutações genéticas idênticas ocorrem em pessoas não aparentadas e sem relação umas com as outras, questionando a noção de que as mutações genéticas são aleatórias.

Esquizofrenia do DNA

Desde a descoberta do DNA, há 60 anos, a ciência tem passado a ideia da chamada "molécula da vida" como se o DNA de cada pessoa fosse único.

Por isso, a descoberta de que uma pessoa pode ter mais de um genótipo altera o próprio conceito que vem sendo construído sobre o que é um ser humano, biologicamente falando.

Isto terá um enorme impacto sobre o uso de análises forenses ou criminais usando o DNA, testes de paternidade, teste de pré-natal ou rastreio genético para o risco de câncer de mama, por exemplo.

Na verdade, esse conceito do DNA como caracterizador do ser humano vem sendo questionado ao longo dos últimos anos.

Hoje já se sabe, por exemplo, que o estilo de vida altera o DNA e influencia o metabolismo. Na parte forense, recentemente um estudo demonstrou o risco dos exames genéticos usando um teste de maternidade para "provar" que uma mãe não era mãe de seus dois filhos.

Mutações genéticas

Os resultados surpreendentes também indicam que as mutações genéticas nem sempre acontecem puramente ao acaso, como os cientistas pensavam e que representa um dos pilares da Teoria da Evolução proposta por Charles Darwin e elaborada ao longo de um século e meio de pesquisas.

As mutações genéticas podem ocorrer nas células que são passados de pai para filho, podendo causar defeitos de nascimento.

Outras mutações genéticas ocorrem depois que o óvulo é fertilizado, durante a infância ou na vida adulta, quando as pessoas são expostas à radiação, a substâncias químicas cancerígenas, vírus ou outros itens que podem danificar o DNA.

Essas mutações posteriores, ou "somáticas", não afetam as células do esperma ou óvulo, de forma que não são herdadas dos pais ou transmitidas aos filhos. Mutações somáticas podem causar câncer ou outras doenças, mas nem sempre o fazem.

No entanto, se a célula mutante continua a se dividir, a pessoa pode desenvolver um tecido com uma sequência de DNA diferente do resto do seu corpo.

"Nós somos, na realidade, diversos seres, no sentido de que uma única pessoa não é geneticamente uma única entidade. Sendo filosófico em coisas que ainda não compreendemos totalmente, o que significa ser uma pessoa, se nós somos variáveis por dentro?" pondera o Dr. Williams.

"O que faz de você uma pessoa? É a sua memória? Seus genes? Nós sempre pensamos, 'Seu genoma é o seu genoma'. Os dados sugerem que isso não é completamente verdade," completa.

Múltiplos DNAs na mesma pessoa

Ter múltiplos genótipos frutos de mutações dentro do mesmo corpo é algo análogo ao quimerismo, uma condição na qual uma pessoa tem células dentro do seu corpo que se originaram de uma outra pessoa, seja por doação de um órgão ou de sangue, ou pela troca de DNA na gravidez envolvendo a mãe e a criança, ou irmãos gêmeos.

Como acreditavam que as alterações somáticas acontecessem de forma aleatória, os cientistas não esperavam que pessoas não relacionadas apresentassem as mesmas mutações.

Contudo, analisando amostras de diferentes tecidos em pessoas não relacionadas, eles encontraram várias mutações idênticas e detectaram estas mutações repetidas apenas no rim, fígado e tecidos do corpo esquelético - nas demais partes do corpo as mutações não coincidiam.

Se o nosso DNA se altera, ou mutaciona, seguindo padrões, em vez de mudar aleatoriamente, se essas mutações 'coincidem' entre pessoas não relacionadas, ou se as mudanças genéticas acontecem apenas em partes do corpo de um indivíduo, o que isso significa para a biologia e a medicina?

Como isso poderá afetar os exames técnicos e forenses, o rastreio do câncer ou o tratamento de doenças?

Ainda não se sabe. O que se sabe é que o edifício do DNA, outrora visto como estável, inquestionável e inconfundível na paisagem, está desabando rapidamente.

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