05/09/2012

Ensinar segundo idioma ajuda na inclusão educacional de crianças pobres

Redação do Diário da Saúde
Ensinar segundo idioma ajuda na inclusão educional de crianças pobres
As crianças bilíngues em famílias de baixos rendimentos têm mais facilidade em direcionar e centrar a sua atenção, o que as ajuda em seu desempenho escolar.
[Imagem: Wikimedia/Marianarulappa]

Competências cognitivas

A vida em situação de pobreza muitas vezes vem acompanhada por condições que podem afetar o desenvolvimento cognitivo de forma negativa.

O Dr. Pascale Engel e seus colegas das universidades de Luxemburgo e Minho (Portugal) examinaram os efeitos de falar duas línguas sobre as funções mentais de crianças em famílias de baixos rendimentos.

"Este é o primeiro estudo que demonstra que, embora crianças bilíngues em famílias de baixos rendimentos tenham de enfrentar muitos desafios linguísticos, também demonstram pontos fortes nas competências cognitivas não relacionadas com a língua, mas que são cruciais para a aprendizagem", afirma Dr. Engel de Abreu.

As crianças bilíngues em famílias de baixos rendimentos têm mais facilidade em direcionar e centrar a sua atenção, em comparação com crianças monolíngues.

O estudo foi publicado na revista Psychological Science.

Memória e atenção

Um total de 80 alunos do segundo ano de escolaridade de famílias de baixo rendimento participou no estudo. Metade das crianças era da primeira ou segunda geração de imigrantes no Luxemburgo, originalmente do norte de Portugal, e falava luxemburguês e português diariamente. A outra metade das crianças vivia no norte de Portugal e só falava português.

Inicialmente os pesquisadores avaliaram o vocabulário das crianças, pedindo-lhes que nomeassem objetos ou ações apresentados em imagens. Ambos os grupos completaram a tarefa em português e, no caso das crianças bilíngues, também em luxemburguês.

Para examinar a forma como as crianças representavam o conhecimento na memória, os pesquisadores deram-lhes a tarefa de encontrar uma peça que faltava para completar uma determinada forma geométrica. Também mediram a quantidade de informação visual que as crianças conseguiam reter na memória. Depois, as crianças participaram em tarefas que permitiam examinar a capacidade de direcionar e centrar a sua atenção, mesmo com distrações.

Embora as crianças bilíngues soubessem menos palavras do que as monolíngues e não apresentassem vantagem em tarefas de memória, tiveram melhor desempenho na tarefa de controle, na qual tinham de direcionar e centrar a sua atenção com distrações.

Desigualdade no desempenho entre crianças ricas e crianças pobres

"Crianças em famílias de baixo rendimento representam uma faixa populacional vulnerável", afirma Engel de Abreu. "Estudar processos cognitivos neste grupo é de grande importância social e representa um avanço significativo na nossa percepção do desenvolvimento infantil."

Os pesquisadores acreditam que os resultados podem dar suporte a esforços para diminuir as disparidades de resultados entre crianças de diferentes situações socioeconômicas.

"Ensinar uma língua estrangeira não envolve equipamento caro, aumenta os horizontes linguístico e cultural das crianças e promove o desenvolvimento saudável do sistema de comando do cérebro, importante para o planejamento e a resolução de problemas", afirma Engel de Abreu. "O nosso estudo conclui que programas de intervenção baseados na aprendizagem de uma segunda língua constituem uma via a ser explorada em futuras pesquisas."

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