04/04/2014

O sonho dos carros acabou?

Jason Thompson - Monash University - The Conversation
O sonho dos carros acabou?
Jason Thompson, autor deste artigo, é atualmente pesquisador convidado da Universidade Monash, na Austrália.
[Imagem: Jason Thompson]

Eu costumava ser obcecado por carros. Para mim, os carros representavam a liberdade, a excelência em engenharia, a modernidade, o brilhantismo tecnológico, a velocidade, a diversão e a emoção.

Eu ainda gosto dos carros, mas não tanto quanto costumava. Agora, eu lamento por eles. Eu sofro por aquilo que me prometem, mas não conseguem entregar.

Por quê? Porque hoje em dia, dirigir um carro não é, infelizmente, nem emocionante e nem libertador. Mais frequentemente é mundano, improdutivo e frustrante. Pior, é mortal.

Realidade enviesada

A indústria automobilística gasta centenas de milhões de dólares em publicidade a cada ano para nos convencer de que os carros são fantásticos. Concordo que, como máquinas individuais, eles certamente são.

Eles são máquinas belas e brilhantes, destinadas a levá-lo com velocidade incrível, com conforto, enquanto impressionam outras pessoas ao longo do caminho. Para tudo funcionar bem nesses comerciais, no entanto, eles ocorrem em um cenário perfeito, que principalmente não contém seres humanos ou qualquer outra lembrança de realidade.

O sonho dos carros acabou?
Será que o glamour dos carros ficou no passado?
[Imagem: Flickr/RMhowie]

Além de nunca representados ao lado de mortos e feridos em acidentes, considere alguns exemplos talvez mais benignos aparentemente comuns no próspero mundo dos anúncios de carros, mas particularmente incomuns na vida cotidiana:

> No mundo dos anúncios de carros, não existem estacionamentos lotados. Você nunca precisa dirigir cinco vezes em torno de um quarteirão ou estacionar a 500 metros à frente do seu objetivo, e depois sair na chuva.

> Os carros nos anúncios nunca são mostrados ao lado de geleiras se derretendo ou em meio a tempestades. Apesar disso, os carros produzem cerca de um quinto das todas as nossas emissões de gases de efeito estufa.

> Mais da metade das viagens não relacionadas a trabalho são para destinos que estão a menos de 5 km de distância. Os carros dos anúncios nunca saem da garagem apenas para rodar dois quarteirões, quando se poderia muito mais facilmente andar ou ir de bicicleta.

> Os motoristas dos anúncios de carros raramente dirigem sozinhos. Se o fazem, é apenas brevemente, antes de pegar uma galera inteira de amigos/namoradas/banda de rock/time de futebol. Os carros dos anúncios são um meio de se conectar com outras pessoas, quando, na realidade, há uma média de 1,2 pessoa por carro a qualquer momento. Você estará quase sempre sozinho dentro do seu carro.

Aceitando os perigos

Em todo o mundo, os acidentes de trânsito tiram 1,2 milhão de vidas todos os anos e ferem até 50 milhões de pessoas - e isso continua aumentando.

Nós já não aceitamos mortes por intoxicação alimentar, procedimentos médicos, doenças infecciosas, assaltos ou acidentes de trabalho. Os traumas gerados pelos carros, no entanto, permanecem em grande parte sendo tolerados.

Numa ironia cruel, numerosos estudos ao redor do mundo mostram claramente que os carros dominam cada vez mais, as pessoas dentro dos carros ficam mais seguras, enquanto as pessoas fora dos carros, geralmente os mais pobres, mais jovens e mais desfavorecidos na sociedade, enfrentam um risco cada vez maior - 27% das mortes nas estradas de todo o mundo são de ciclistas e pedestres mortos ou feridos por alguém dirigindo um carro.

Então, por que continuar a manter os carros no centro da política de transportes?

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