04/04/2022

Neurociência: Projeto do experimento determina o resultado

Redação do Diário da Saúde
Neurociência: Quando a natureza do experimento determina o resultado
Uma nova teoria propõe como testar a consciência em humanos, animais e até na inteligência artificial.[Imagem: RUB/Kramer]

Resultados contraditórios

Tem sido muito difícil reproduzir os experimentos científicos feitos para estudar a conexão entre a atividade neural no cérebro e a consciência - os resultados obtidos em um laboratório não aparecem quando o mesmo experimento é feito por outra equipe.

Além disso, há inúmeros experimentos que simplesmente dão resultados contraditórios.

Então a neurocientista Itay Yaron reuniu uma equipe de especialistas de várias instituições para reexaminar centenas desses experimentos científicos, concentrando-se sobretudo nos que apresentavam resultados contraditórios.

A conclusão a que eles chegaram é surpreendente: A natureza do experimento determina em grande parte seu resultado.

Experimento que determina o resultado

Na neurociência, existem atualmente quatro teorias principais que tentam explicar como as experiências conscientes surgem da atividade neural. Neste novo estudo, os pesquisadores reexaminaram centenas de experimentos que parecem confirmar teorias que são contraditórias.

O estudo mostra que as inconsistências nos resultados dos experimentos se devem principalmente a diferenças metodológicas - ou seja, a forma como o experimento foi idealizado e realizado - ou a escolhas feitas pelos pesquisadores antes do início do experimento.

A equipe descobriu que as escolhas metodológicas dos cientistas de fato determinaram o resultado dos experimentos, tanto que um algoritmo de inteligência artificial permitiu que eles previssem qual teoria seria apoiada por cada experimento com 80% de sucesso sem precisar olhar os resultados.

"Os pesquisadores tomam uma série de decisões enquanto constroem seus experimentos, e nós demonstramos que só essas decisões - mesmo sem conhecer os resultados dos experimentos - já predizem qual teoria esses experimentos irão sustentar. Ou seja, essas teorias foram testadas de maneiras diferentes, embora tentem explicar o mesmo fenômeno," comentou Yaron.

Teorias contraditórias da consciência

Existem atualmente quatro teorias principais no estudo da consciência - e elas fornecem previsões contraditórias sobre os fundamentos neurais da experiência consciente.

A Teoria do Espaço de Trabalho Neuronal Global sustenta que existe uma rede neural central e, quando a informação entra nela, ela começa a ser transmitida por todo o cérebro, tornando-se consciente.

A Teoria do Pensamento de Ordem Superior argumenta que existe um estado neural de ordem superior que "aponta" para a atividade em áreas de nível inferior, marcando esse conteúdo como consciente.

Uma terceira teoria, chamada de Teoria do Processamento Recorrente, afirma que a informação que é reprocessada dentro das próprias áreas sensoriais, na forma de processamento recorrente, torna-se consciente.

E, finalmente, uma quarta teoria, a Teoria da Informação Integrada, define a consciência como informação integrada no cérebro, argumentando que as regiões posteriores são os substratos físicos da consciência.

Neurociência: Quando a natureza do experimento determina o resultado
"Parece que o quadro real é maior e mais complexo do que qualquer uma das teorias existentes sugere," disse a professora Itay Yaron.
[Imagem: Itay Yaron]

Projetando o resultado

Cada uma dessas teorias oferece experimentos convincentes para apoiá-las, de modo que o campo é polarizado, sem uma explicação neurocientífica consensual da consciência. Assim, os pesquisadores realizaram uma análise aprofundada de todos os 412 experimentos que foram projetados para testar essas quatro principais teorias.

O problema é que os experimentos simplesmente não foram construídos da mesma maneira.

Por exemplo, alguns experimentos focaram em diferentes níveis ou estados de consciência, como um coma ou um sonho, e outros estudaram mudanças no conteúdo de consciência de indivíduos saudáveis. Em alguns experimentos, as métricas de conectividade foram testadas e em outros não.

"Outra de nossas descobertas foi que a grande maioria dos experimentos que analisamos apoiava as teorias, em vez de desafiá-las. Parece haver um viés de confirmação embutido em nossa práxis científica, embora o filósofo da ciência Karl Popper tenha dito que a ciência avança refutando teorias, não confirmando-as.

"Além disso, quando você junta todas as descobertas relatadas nesses experimentos, parece que quase todo o cérebro está envolvido na criação da experiência consciente, o que não é consistente com nenhuma das teorias. Em outras palavras, parece que o quadro real é maior e mais complexo do que qualquer uma das teorias existentes sugere. Parece que nenhuma delas é consistente com os dados, quando agregados entre os estudos, e que a verdade está em algum lugar no meio," disse a professora Liad Mudrik, membro da equipe.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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