21/02/2018

Vemos nós mesmos e os nossos através de óculos cor-de-rosa

Redação do Diário da Saúde

Bons olhos para os nossos

A maioria das pessoas vê a si própria e à sua vida com o que os psicólogos chamam de "óculos cor-de-rosa", o que significa que costumamos ser bastante condescendentes com nosso próprio comportamento e personalidade.

Agora se constatou que esse "viés de otimismo" se estende além do self (si mesmo), ou seja, usamos os óculos cor-de-rosa também quando olhamos aquelas pessoas que são importantes para nós - os erros delas não parecem tão graves quanto os erros dos "outros".

É mais ou menos como se os jogadores do nosso time fossem sempre mais leais no fair play do que os jogadores do time rival, ou a corrupção do nosso partido fosse sempre menos grave do que a corrupção do partido adversário.

E o efeito em relação aos outros torna-se mais forte quanto mais a pessoa analisada é considerada importante. Mas o efeito apareceu também em relação a estranhos.

Esse fenômeno inusitado acaba de ser documentado por uma equipe multidisciplinar das universidades City, Londres e Oxford (Reino Unido) e da Universidade de Yale (EUA). Os resultados foram publicados na revista Psychological Science.

Efeito boa notícia/má notícia

Para examinar a extensão desse viés de "otimismo substituto" sobre as pessoas, os pesquisadores estudaram um mecanismo conhecido como "efeito boa notícia/má notícia", que gera e protege nossa forma de ver a nós mesmos e aos outros.

Ao longo da vida, nós às vezes mudamos nossas crenças sobre nós mesmos com base em novas informações que recebemos. Por exemplo, quando alguém fala que somos mais inteligentes do que pensávamos - notícia boa -, atualizamos nossas crenças; mas se ouvimos somos menos inteligentes do que pensávamos - notícia ruim - nós mudamos pouco e continuamos nos achando bem inteligentes. Esse viés parece surgir do desejo de nos sentirmos bem em relação a nós mesmos e ao nosso futuro.

Mas nós também queremos nos sentir bem com o futuro das pessoas de quem gostamos. Notícias ruins sobre as pessoas que nos são caras parecem terríveis, o que nos impede de integrar essas informações em nossas crenças sobre essas pessoas. Por isso, esse "efeito boa notícia/má notícia" tem sido usado em experimentos de psicologia para aferir o quanto uma pessoa realmente se interessa por outra - quanto mais nos preocupamos com outra pessoa, mais provável que possamos aceitar boas notícias sobre essa pessoa e rejeitar más notícias.

Otimismo substituto

Para testar se o viés de otimismo medido pelo "efeito boa notícia/má notícia" de fato se estende além do nosso eu, os pesquisadores recrutaram mais de 1.100 participantes para cinco experimentos. Em cada um, os participantes imaginavam uma série de eventos negativos acontecendo com outras pessoas, desde seus amigos até estranhos.

Quando os participantes, por exemplo, liam primeiro informações sobre um estranho indicando que ele era uma boa pessoa, eles a seguir apresentavam um otimismo em relação a essa pessoa. No entanto, quando eles liam inicialmente que o estranho não era uma pessoa legal, o otimismo diminuía substancialmente em relação a essa pessoa. Além disso, quanto maior era o viés de otimismo para um estranho, maior era a probabilidade de os participantes se dispusessem a ajudar pessoas semelhantes a esse estranho.

Quando o outro era uma pessoa conhecida, os resultados mostraram que o viés de otimismo é mais forte quanto mais a pessoa gosta da outra.

"Esses experimentos sugerem que a empatia afeta a forma como aprendemos e a forma como tomamos decisões. Essas pessoas com forte 'otimismo substituto' em relação a estranhos são mais propensas a ajudar um estranho em necessidade. A preocupação com os outros deixa suas impressões digitais nas crenças que desenvolvemos sobre o mundo," disse a Dra. Molly Crockett, uma das coordenadoras do estudo.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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