12/03/2020 Zika combate tumores avançados no sistema nervoso centralRedação do Diário da Saúde
Imagem do tecido tumoral de cão da raça dachshund após o tratamento, obtida por imunofluorescência. O vírus zika (em vermelho) pode ser observado infectando as células malignas (núcleo em azul) nas bordas do tumor.[Imagem: Carolini Kaid/CEGH-CEL]
Zika contra câncer Pesquisadores brasileiros deram um passo importante no desenvolvimento de uma terapia que usa o vírus zika para combater tumores avançados no sistema nervoso central. Em 2018, a mesma equipe comprovou que o zika pode curar tumores no sistema nervoso de camundongos. Desta vez, como é praxe nas pesquisas desse tipo, eles utilizaram animais maiores, cachorros com idade avançada e tumores espontâneos no cérebro. O resultado foi ainda melhor do que o esperado. "Observamos uma reversão surpreendente dos sintomas clínicos da doença, além de redução tumoral e aumento de sobrevida - e com qualidade, que é o mais importante. Além disso, o tratamento foi bem tolerado e não houve efeitos adversos. Estamos superanimados com os resultados," contou a professora Mayana Zatz, do Instituto de Biociências da USP. No modelo de camundongos, usado anteriormente, a formação de tumores humanos é induzida em laboratório, o que só é possível em animais imunossuprimidos. Uma das principais vantagens deste novo experimento foi a possibilidade de avaliar o efeito da terapia em animais com o sistema imunológico ativo. "Os resultados confirmam que a terapia atua por meio de dois mecanismos. Por um lado, o vírus infecta as células tumorais, começa a se replicar e acaba levando-as à morte. Por outro, ativa o sistema imune para a presença do tumor. A infecção desencadeia uma reação inflamatória e células de defesa começam a migrar para o local," contou a pesquisadora Carolini Kaid, responsável pelos experimentos. Esquema do experimento com cobaias de grande porte. [Imagem: Carolini Kaid et al. - 10.1016/j.ymthe.2020.03.004] Imunoterapia segura Os tumores do sistema nervoso central costumam não responder bem à imunoterapia, a controversa técnica que ganhou o Nobel de Medicina em 2018. Isso porque a barreira hematoencefálica, estrutura que visa proteger o cérebro de substâncias potencialmente tóxicas presentes no sangue, dificulta a migração das células de defesa para o local. Embora tipicamente a imunoterapia mexa perigosamente com o sistema imunológico, as análises feitas no tecido cerebral dos cães indicaram a presença de linfócitos T, macrófagos e monócitos infiltrados na massa tumoral. "Essas análises também mostraram a presença do zika apenas nas bordas do tumor. Nenhuma outra célula do cérebro foi afetada. Esse é um achado muito importante, pois nos dá mais confiança de que o tratamento é seguro," disse Carolini. "Aprendemos muito com esses três cachorros e agora pretendemos iniciar um novo estudo pré-clínico com um número maior de animais. Um dos objetivos é descobrir a dose ideal do vírus para o tratamento. Se funcionar será uma esperança de tratamento tanto para os cães quanto para nós. Mas para isso precisamos de mais verbas e buscamos parcerias," disse a professora Mayana. Outra equipe de pesquisadores brasileiros está testando o vírus zika contra o câncer de próstata. Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br URL: A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos. |