02/12/2016

Altos lucros hospitalares estão prejudicando exercício da Medicina, defende especialista

Redação do Diário da Saúde
Altos lucros hospitalares estão prejudicando exercício da Medicina, defende especialista
"É lógico operar um hospital com fins lucrativos?" pergunta o especialista.
[Imagem: Wikimedia/Svilen.milev]

Lucro versus qualidade

A profissão médica está perdendo a corrida para atrair os estudantes mais talentosos e mais brilhantes?

Quem afirma que sim é o Dr. Robert Doroghazi, um cardiologista que defende que esse fenômeno é uma decorrência dos altos lucros hospitalares, que estão prejudicando a prática da Medicina.

O médico não descarta outras razões para o declínio na qualidade dos estudantes de Medicina, como as altas dívidas estudantis e a excessiva duração dos cursos.

Mas ele afirma que os altos lucros hospitalares, mesmo das chamadas instituições "sem fins lucrativos", estão se tornando uma das tendências mais negativas a influenciar negativamente a qualidade dos profissionais de medicina.

Lucros sem fins lucrativos

O Dr. Doroghazi afirma que não é uma coincidência que o primeiro hospital com fins lucrativos nos EUA tenha aberto suas portas em 1967, apenas dois anos depois da aprovação de uma legislação que diminuiu as exigências de cuidados de caridade das instituições hospitalares. Hoje, 49 dos 50 hospitais norte-americanos mais caros têm fins lucrativos.

"É lógico operar um hospital com fins lucrativos?" pergunta ele.

Doroghazi sugere que as únicas opções pelas quais os hospitais com fins lucrativos geram o excesso de receita para pagar dividendos aos investidores está na "cereja do bolo", minimizando os pacientes que não podem pagar e maximizando os mais lucrativos, e simplesmente cobrando mais caro.

Mesmo os hospitais "sem fins lucrativos" tornaram-se extremamente lucrativos, com as isenções de impostos estimadas em impressionantes US$ 24,6 bilhões em 2011. "Em 2013, os 10 hospitais mais lucrativos dos EUA passaram de um lucro de US$ 163,5 milhões para US$ 302,5 milhões. Os quatro primeiros e sete dos dez primeiros são supostamente 'sem fins lucrativos'," cita o especialista.

Ele observa que o lucro de um ano do Hospital de Stanford, de US$ 224,7 milhões, poderia financiar a mensalidade de todos os seus estudantes de Medicina - pelos próximos 10 anos.

Altos lucros e baixos salários

Mas como e por que esses altos lucros hospitalares são prejudiciais à prática da Medicina?

"Eu acredito que a busca por lucros entre todos os hospitais, sem fins lucrativos e com fins lucrativos, tem sido um dos principais fatores que tornaram nossos custos de saúde os mais altos do mundo, superando a inflação. Há dois tipos de competição. Henry Ford foi implacável na fabricação de carros que tinham melhor qualidade e fossem mais baratos. Esta é a América no que ela tem de melhor: toda a sociedade se beneficiou.

"Acredito que a atual competição hospitalar não fez nada além de elevar os custos: os novos hospitais são frequentemente descritos pelos moradores locais como um Taj Mahal, com quartos espaçosos e bem equipados, com obras de arte nas paredes e saguões maiores do que quadras de futebol. Os hospitais adotam tecnologias caras, que beneficiam poucos e, em seguida, liberam seus orçamentos de publicidade do tamanho da Avenida Madison [que percorre Nova Iorque de norte a sul] para dizer a todos que têm um helicóptero," explica Doroghazi.

Quanto aos salários dos médicos, esses precisam decair na exata medida de qualquer outro custo, o que desestimularia a adoção da profissão pelos estudantes mais brilhantes, conclui o especialista.

O trabalho do Dr. Doroghazi, intitulado "Tendências Seculares Negativas na Medicina", foi publicado no American Journal of Medicine

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