09/03/2020

Cientistas da USP replicam novo coronavírus em laboratório

Com informações da Agência Fapesp
Cientistas da USP replicam novo coronavírus em laboratório
À esquerda uma célula humana não infectada; à direita, o coronavírus multiplicando-se em célula cultivada em laboratório.
[Imagem: ICB/USP]

Coronavírus produzido em laboratório

Uma equipe do Instituto de Ciências Biomédicas da USP (Universidade de São Paulo) isolou e cultivou em laboratório o coronavírus SARS-CoV-2, causador da febre covid-19, obtido dos dois primeiros pacientes brasileiros diagnosticados com a doença.

Os vírus serão distribuídos para grupos de pesquisa e laboratórios clínicos em todo o país com o objetivo de ampliar a capacidade de realização de testes diagnósticos e avançar em estudos sobre como a doença é causada e se propaga.

"A disponibilização de amostras desse vírus cultivados em células permitirá aos laboratórios clínicos terem controles positivos para validar os testes de diagnóstico, de modo a assegurar que realmente funcionem," disse o professor Edison Luiz Durigon.

A falta dessas amostras do vírus para serem usadas como controles positivos era um dos fatores que limitavam o diagnóstico de coronavírus no Brasil, de acordo com o pesquisador.

Substituição de importações

Como o SARS-CoV-2 surgiu no exterior, as amostras de vírus que têm sido utilizadas como controle positivo nas técnicas de diagnóstico empregadas por laboratórios brasileiros são importadas da Europa e dos Estados Unidos, a um custo que varia entre R$ 12 mil e R$ 14 mil.

Além disso, os vírus serão distribuídos inativados, ou seja, sem a capacidade de infectar células, e em temperatura ambiente. Os vírus importados hoje pelos laboratórios brasileiros têm de ser transportados sob refrigeração, em gelo seco, o que encarece muito o frete, explicou o pesquisador.

Os laboratórios clínicos receberão alíquotas com mais ou menos 1 mililitro (ml) de vírus inativado. O ácido nucleico dessas amostras será então extraído e usado como controle positivo em exames baseados na técnica conhecida como RT-PCR (reação em cadeia da polimerase em tempo real, na sigla em inglês). Essa técnica permite amplificar o genoma do vírus em uma amostra clínica, aumentando em milhões o número de cópias do RNA do coronavírus. Dessa forma, é possível detectá-lo e quantificá-lo em uma amostra clínica.

Como poucos laboratórios no Brasil possuem esse equipamento, os pesquisadores também pretendem desenvolver outros testes de diagnóstico baseados em outras técnicas mais acessíveis, como análise por imunofluorescência - método que permite visualizar antígenos em uma amostra por meio de corantes fluorescentes.

"Se conseguirmos validar um teste desse tipo específico para o coronavírus seria possível que outros laboratórios e hospitais que não têm o equipamento para o exame por RT-PCR também façam diagnóstico", avaliou Durigon.

Onde realizar exames para coronavírus

O diagnóstico de casos da doença no país tem sido feito principalmente por laboratórios privados e laboratórios de referência no setor público que têm recebido os casos suspeitos.

Na rede pública, quatro laboratórios de referência nacional realizam os testes atualmente: Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo; Instituto Evandro Chagas, no Pará; Fiocruz, no Rio de Janeiro; e Laboratório Central de Goiás, que foi capacitado para realização do exame específico para coronavírus dos brasileiros repatriados da China.

O primeiro teste tem sido feito pelos hospitais de referência de cada estado e o material coletado é então encaminhado para um desses quatro laboratórios para contraprova.

"Os vírus que conseguimos cultivar em laboratório poderão ser usados em um kit para diagnóstico que o Ministério da Saúde distribuirá para os Laboratórios Centrais de Saúde Pública [Lacens] em todo o país. Com isso, todos os estados estarão aptos a realizar o diagnóstico", disse Durigon.

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