07/11/2022

Conservadores veem o mundo como hierarquizado, e não como perigoso

Redação do Diário da Saúde
Conservadores não veem o mundo como mais perigoso, eles o veem como hierarquizado
A nova explicação faz muito sentido no caso do Brasil, mas sobretudo abre caminho para o diálogo.
[Imagem: Gerd Altmann/Pixabay]

Crenças primordiais

Não deveria ser surpresa que pessoas que se consideram politicamente conservadoras vejam o mundo de forma diferente daquelas que se consideram politicamente progressistas.

Décadas de pesquisas têm sugerido que os conservadores veem o mundo como mais perigoso do que os progressistas, um conceito que estaria na base de suas atitudes sobre imigração, policiamento e muitas outras questões.

Mas parece que, como sempre acontece, as coisas não são tão simples quanto os cientistas pensavam.

"Os humanos realmente têm 26 crenças sobre o mundo como um todo, muito mais do que sabíamos," conta o professor Jer Clifton, da Universidade da Pensilvânia (EUA). "A maioria delas se divide em três categorias: Que o mundo é um lugar seguro versus um lugar perigoso, que o mundo é atraente versus maçante e que o mundo é vivo versus mecanicista." Os pesquisadores chamam essas crenças sobre o mundo de primitivas, mas também são usados os termos primordiais e primais.

E os resultados dos trabalhos mais recentes de Clifton e seu colega Nicholas Kerry questionam até mesmo a ideia mais comum de que os conservadores veem o mundo como mais perigoso do que os progressistas. "Eu olhei amostra após amostra esperando encontrar algo que não encontrei. Eu estava errado. Estávamos todos errados," confessou Clifton.

Crença no mundo perigoso

A pesquisa mostra que a conexão entre o pensamento conservador e uma mentalidade de que o perigo está em todos os lugares provavelmente foi exagerada, e que ambas as extremidades do espectro político veem o mundo como igualmente perigoso.

Mas então como explicar a divisão que a política vem causando nos últimos anos em vários países, causando quebras sociais drásticas que ameaçam a democracia, e até mesmo dentro das famílias, cada um polarizando-se sem conseguir nem mesmo dialogar com os outros? Até agora, os psicólogos e sociólogos usavam o medo do futuro que as pessoas conservadoras teriam, o que as faria tentar agarrar-se a líderes autoritários, que, imaginam elas, poderiam lhes dar um quê de segurança.

Os dois pesquisadores chegaram a outra conclusão: Segundo eles, o que distingue os conservadores é que eles acreditam que o mundo é hierárquico.

A dupla estudou vários aspectos, mas, na área específica sobre política, Clifton e Kerry analisaram nove amostras, totalizando mais de 5.400 pessoas, para determinar quais crenças primordiais poderiam identificar esquerda e direita.

"Quando fizemos o que todos acreditávamos ser uma escala melhor, pensamos que veríamos um grande efeito mostrando que os conservadores veem o mundo como um lugar perigoso," conta Clifton. "Em vez disso, esse efeito caiu para quase nada. Com a primeira amostra, eu pensei que era um acaso. Então eu fiz isso de novo e de novo e obtive o mesmo resultado."

Crença no mundo hierárquico

O que os dados realmente mostraram foi uma associação muito forte entre o conservadorismo e a visão hierárquica do mundo, que diz que pessoas, lugares e coisas têm cada um o seu valor característico, permitindo uma classificação do menos importante para o mais importante.

De fato, a "crença primitiva hierárquica" explica 20 vezes mais variação na ideologia política do que "crença primitiva do mundo perigoso".

No caso do Brasil, isso poderia explicar a preferência dos conservadores pela hierarquia militar, por exemplo, ou a dificuldade das classes mais altas de aceitarem um líder que pertence a uma classe social "menos importante".

"As crenças primitivas que diferenciam a esquerda da direita fazem um bocado de sentido, embora estranho," explica Clifton. "Isso tem enormes implicações para os pesquisadores em como eles estudam isso, mas também para a pessoa comum. Nós não precisamos ficar tão bravos uns com os outros. Pode haver um desacordo honesto sobre o mundo e quais políticas são necessárias. Pode ser o início da empatia e do compromisso, a capacidade de ver como o mundo é visto pelo outro lado."

Checagem com artigo científico:

Artigo: Belief in a Dangerous World Does Not Explain Substantial Variance in Political Attitudes, But Other World Beliefs Do
Autores: Jeremy D. W. Clifton, Nicholas Kerry
Publicação: Social Psychological and Personality Science
DOI: 10.1177/19485506221119324
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