19/12/2017

Diferenças genéticas tornam remédios ineficazes para parte da população

Redação do Diário da Saúde
Diferenças genéticas tornam remédios ineficazes para parte da população
"Os 3% da população afetada representam uma média. Para alguns receptores importantes é muito mais."
[Imagem: CC0 Public Domain/Pixabay]

Genética contra os remédios

Cerca de um terço de todos os medicamentos existentes no mercado ligam-se ao mesmo tipo de receptor no corpo humano, o chamado GPCR, sigla em inglês para "receptor acoplado à proteína G".

Ocorre que uma parte da população - 3% em uma média para todos os remédios - possui esses receptores tão geneticamente diferentes que eles geram respostas alteradas, ineficazes ou mesmo adversas aos medicamentos.

"Os 3% da população afetada representam uma média. Para alguns receptores importantes é muito mais. Por exemplo, as mutações relevantes ocorrem em 69% das pessoas no receptor GLP1, que é o alvo do medicamento para diabetes, e em 86% das pessoas no receptor CNR2, que é usado como alvo de remédios para aliviar a náusea induzida pela quimioterapia. Mas, é claro, não podemos conhecer o genoma de cada pessoa e, portanto, são estimativas baseadas nos conjuntos de dados disponíveis," detalhou o professor Alexander Hauser, da Universidade de Copenhague (Dinamarca).

"Isso pode significar que o medicamento simplesmente funciona de forma menos eficiente. E também pode significar que o medicamento não funciona de forma alguma ou provoca efeitos adversos nos pacientes," acrescentou Madan Babu, professor do Laboratório de Biologia Molecular de Cambridge (Reino Unido), coautor da análise.

Receptores GPCR

Os receptores GPCR são os principais alvos do maior grupo de medicamentos modernos comercializados nas farmácias de todo o mundo.

Os pesquisadores analisaram as mutações nos receptores GPCR humanos utilizando dados de sequenciamento do genoma inteiro do projeto 1.000 Genomas, com cerca de 2.500 participantes, além de dados de exoma - a fração do genoma que codifica os genes - do projeto ExAC, com mais de 60.000 participantes.

Minerando esse dados foi possível mapear a extensão com que as mutações ocorrem nos alvos dos medicamentos no genoma dos voluntários e estudar o impacto que essas mutações poderiam ter sobre o efeito terapêutico de cada remédio.

Os pesquisadores então usaram dados estruturais para inferir pontos críticos nos GPCRs para descobrir quais mutações são mais propensas a alterar o efeito dos remédios, e as encontrou em uma parcela significativa da amostra - 3% em média.

Diferenças genéticas tornam remédios ineficazes para parte da população
Variações no gene GPCR (polimorfismo) levam a diferentes respostas aos medicamentos.
[Imagem: Julia Hillger]

Desperdício de remédios

Os pesquisadores finalmente cruzaram seus resultados com dados do Instituto Nacional de Saúde do Reino Unido sobre as vendas de 279 medicamentos relevantes em relação aos receptores GPCR, para estimar quanto dinheiro é gasto em medicamentos com pouco ou nenhum efeito.

Com uma estimativa conservadora, eles constataram que o ônus econômico para o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido é de pelo menos £14 milhões por ano (R$61,9 milhões), levando em consideração o número de pessoas com mutações em ambas as cópias do gene em locais importantes do receptor-alvo.

"A prevalência e o impacto potencial da variação na resposta ao medicamento entre os indivíduos é um forte argumento para pesquisar ainda mais este campo. E também constitui um bom exemplo de por que a medicina personalizada pode ser o caminho a seguir; mesmo quando estamos falando de medicamentos comuns," finalizou Hauser.

Infelizmente, a medicina personalizada sofreu um duro revés esta semana, com a descoberta de que seus exames dão resultados diferentes em cada laboratório.

O estudo foi publicado na revista Cell.

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