27/01/2023

Emoções dos médicos levam a cuidados inúteis no final da vida

Redação do Diário da Saúde
Emoções dos médicos levam a cuidados inúteis no final da vida
Você sabe o que é tratamento paliativo?
[Imagem: Gerd Altmann/Pixabay]

Quando a morte é inevitável

Psicólogos acreditam ter encontrado uma explicação para uma questão central na área da saúde: Por que tantos pacientes terminais recebem tratamentos intensos no fim da vida mesmo com chances mínimas de uma extensão significativa da vida?

Pesquisas com pessoas saudáveis têm repetidamente mostrado que quase todas as pessoas preferem morrer pacificamente em casa, mas tratamentos dolorosos e prolongados continuam comuns, e nenhum esforço para reduzir seu uso teve sucesso até agora.

O Dr. Paul Duberstein e sua equipe da Universidade Rutgers (EUA) abordaram a questão focando na psicologia dos médicos e na dinâmica da família do paciente.

Eles demonstraram como as pressões emocionais sobre os médicos e dinâmicas familiares complexas provocam esforços excessivos para tentar curar doenças incuráveis ou evitar a morte de pacientes idosos que não têm mais chance de recuperação.

"Modelos antigos tendiam a assumir que os médicos eram agentes puramente racionais, levando os pacientes a escolhas lógicas," disse Duberstein. "Este [novo] modelo incorpora pesquisas que mostram que os médicos são seres emocionais, como todas as pessoas, e essas emoções impactam fortemente as escolhas de seus pacientes."

Exuberância irracional

O que acontece, segundo os pesquisadores, é que os médicos detestam "desistir" dos pacientes, o que os leva a recomendar tratamentos adicionais, mesmo com chances mínimas de sucesso. E, ouvindo os médicos, as famílias sentem-se compelidas a seguir o tratamento.

O resultado é que, além de não evitar a morte, esses tratamentos sem esperança tiram o direito do paciente de morrer bem - por exemplo, recebendo tratamentos paliativos para evitar o sofrimento.

"Isso não irá mudar até que melhoremos a educação médica e a cultura da exuberância irracional biomédica," disse Duberstein.

"Exuberância irracional" é um termo que o economista Alan Greenspan usou para descrever o sentimento dos investidores antes da grande quebra das empresas de internet, conhecida como "bolha da internet", uma queda de 78% no valor das ações dessas empresas no ano de 2002. Duberstein e seus colegas defendem que essa irracionalidade - uma atribuição de valor ao que não tem o valor esperado - há muito afeta médicos e pacientes tanto quanto afetou as bolsas de valores.

Irracionalidade justificada

Segundo os pesquisadores, é mais difícil para os médicos verem essa irracionalidade porque, ao contrário dos jogadores na bolsa de valores, que podem ser vistos como ambiciosos ou até viciados, a luta para preservar a vida é normalmente retratada como uma virtude.

Assim, os médicos acreditam que seus motivos para prescrever novos tratamentos são nobres - evitar a morte, salvar uma vida, "fazer tudo o que pudermos", "lutar uma batalha" e "nunca desistir", cita Duberstein. Nessa visão, deixar de prescrever tratamentos adicionais equivaleria a abandonar o paciente; e, para a família, deixar de experimentar os tratamentos sugeridos equivaleria a abandonar seu ente querido.

"Em algum nível, cada morte de paciente é uma fonte potencial de vergonha para os médicos e uma fonte de culpa para os familiares sobreviventes," disse Duberstein. "Mudando a cultura da educação médica e as atitudes culturais mais amplas em relação à morte, podemos abordar as emoções e a dinâmica familiar que têm impedido que tantos pacientes recebam cuidados de qualidade em seus últimos dias e semanas de vida."

Checagem com artigo científico:

Artigo: The TRIBE model: How socioemotional processes fuel end-of-life treatment in the United States
Autores: Paul R. Duberstein, Michael Hoerger, Sally A. Norton, Supriya Mohile, Britt Dahlberg, Erica Goldblatt Hyatt, Ronald M. Epstein, Marsha N. Wittink
Publicação: Social Science and Medicine
DOI: 10.1016/j.socscimed.2022.115546
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