22/08/2023

Esquecer é parte integrante do processo de aprendizagem

Redação do Diário da Saúde
Esquecer é parte integrante do processo aprendizagem
O esquecimento pode ser uma característica funcional do cérebro, permitindo que ele interaja dinamicamente com um ambiente sempre mutável.
[Imagem: Nora Raschle]

Esquecimento é parte da memória

A noção de que o esquecimento é parte integrante do nosso sistema de memória é antiga, incorporada ao saber central da ciência graças aos trabalhos do neurocientista argentino Iván Izquierdo.

Agora, neurocientistas obtiveram mais um reforço dessa teoria, mostrando que esquecer pode não ser uma coisa ruim, podendo de fato ser interpretado como uma forma de aprendizado.

Em uma série de estudos experimentais, os pesquisadores analisaram o efeito do esquecimento natural cotidiano em relação a memórias específicas no cérebro.

Livia Autore e colegas do Trinity College de Londres (Inglaterra) estudaram uma forma de esquecimento chamada interferência retroativa, em que diferentes experiências ocorrendo próximas no tempo podem causar o esquecimento de memórias recém-formadas.

Os camundongos precisavam associar um objeto específico a um determinado contexto ou ambiente e, em seguida, reconhecer que o objeto foi deslocado do seu contexto original. No entanto, os camundongos esquecem essas associações quando experiências concorrentes interferem na primeira memória.

Para estudar o resultado dessa forma de esquecimento na própria memória, os neurocientistas rotularam geneticamente um "engrama" contextual (um grupo de células cerebrais que armazenam uma memória específica) no cérebro desses camundongos e acompanharam a ativação e o funcionamento dessas células depois que o esquecimento aconteceu.

Memórias reativadas

Ao empregar uma técnica chamada optogenética, eles descobriram que a estimulação das células do engrama recuperava as memórias aparentemente perdidas em mais de uma situação comportamental. Além disso, quando os camundongos receberam novas experiências relacionadas às memórias esquecidas, os engramas que se acreditava perdidos puderam ser naturalmente renovados.

"Nossos resultados dão suporte à ideia de que a competição entre engramas afeta a recordação e que o traço de memória esquecido pode ser reativado por pistas naturais e artificiais, bem como atualizado com novas informações. O fluxo contínuo de mudanças ambientais leva à codificação de múltiplos engramas que competem por sua consolidação e expressão.

"Assim, enquanto alguns podem persistir imperturbáveis, alguns estarão sujeitos à interferência de novas informações que chegam e prevalecem. No entanto, as memórias interferidas ainda podem ser reativadas por pistas circundantes, levando à expressão da memória ou por experiências enganosas ou novas, terminando em um resultado comportamental atualizado," disse Autore.

Como agora sabemos que o "esquecimento natural" é reversível em certas circunstâncias, este trabalho tem implicações significativas para problemas de memória, como pessoas que vivem com a doença de Alzheimer, por exemplo, onde esses processos diários de esquecimento podem ser ativados erroneamente.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Adaptive expression of engrams by retroactive interference
Autores: Livia Autore, James D. O’Leary, Clara Ortega-de San Luis, Tomás J. Ryan
Publicação: Cell Reports
Vol.: 42, Issue 8, 112999
DOI: 10.1016/j.celrep.2023.112999
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