27/10/2022

Metabolismo dá mais informações sobre o risco de algumas doenças que a genética

Redação do Diário da Saúde
Metabolismo dá mais informações sobre o risco de algumas doenças que a genética
A epigenética nos mostrou que nem tudo o que herdamos dos nossos pais vem via DNA.
[Imagem: Etsuko Uno]

Ancestralidade metabólica

Nossa ancestralidade pode ser detectada não apenas em nossos genes, mas também em nosso metabolismo.

Esta é mais uma descoberta que vem ajudar a desmistificar a herança genética, mostrando que nem tudo o que herdamos dos nossos pais vem via DNA.

Em uma análise dos perfis metabólicos de bebês saudáveis, pesquisadores descobriram diferenças surpreendentes entre indivíduos de diferentes grupos étnicos.

Isso pode ajudar a tornar o rastreamento de distúrbios metabólicos hereditários - como fibrose cística ou hipotireoidismo - muito mais preciso do que os tradicionais rastreamentos de doenças genéticas, que não são tão precisos quanto se imagina - há anos os especialistas vêm pedindo cautela na realização de exames genéticos.

"Nós não queremos perder um bebê que potencialmente está doente e não queremos dar às famílias os custos e preocupações que podem resultar de um teste falso-positivo," justificou o professor Curt Scharfe, da Universidade de Yale (EUA), referindo-se às imprecisões dos testes baseados no DNA.

Metabolismo versus genética

Para o estudo, Scharfe e seus colegas analisaram dados de mais de 400.000 bebês, representando 17 grupos étnicos. Eles queriam saber se essas diferenças étnicas poderiam ser detectadas em metabólitos, moléculas que fornecem energia ao quebrar alimentos ou tecidos corporais, como gordura, encontrados no sangue dos bebês.

Sabe-se que as pessoas de herança africana têm maior diversidade genética do que as de grupos étnicos porque são descendentes da população ancestral mais antiga do mundo. A ciência entende que os humanos modernos emigraram da África para as demais regiões do planeta; outros grupos étnicos são descendentes desses migrantes originais e têm variação suficiente em seu DNA para torná-los geneticamente identificáveis.

O que se descobriu agora é que as linhagens metabólicas podem contar uma história diferente.

Por exemplo, embora haja uma distinção clara nas variantes genéticas entre afro-americanos e americanos de ascendência europeia, os pesquisadores descobriram que, metabolicamente, esses dois grupos estão mais intimamente relacionados. E, enquanto as pessoas de ascendência japonesa e chinesa, por exemplo, estão intimamente relacionadas geneticamente, há grandes diferenças em seus perfis metabólicos.

"Isso atesta o papel do ambiente na formação do nosso metabolismo," disse Scharfe. "Onde as pessoas compartilham a mesma cultura e mesma comida, os perfis metabólicos são mais semelhantes. Onde as pessoas são separadas por circunstâncias, como idioma ou estilo de vida, as diferenças no metabolismo são maiores do que as variações genéticas."

Metabolismo dá mais informações sobre o risco de algumas doenças que a genética
O estudo das influências metabólicas chama-se metabolômica.
[Imagem: Mcmurryjulie/Pixabay]

Mais preciso que testes genéticos

A questão não é apenas de interesse acadêmico, sendo de aplicação imediata para os pediatras, dizem os pesquisadores. Por exemplo, sabe-se que bebês de ascendência africana são mais propensos a ter biomarcadores sanguíneos indicando fibrose cística elevados do que bebês nascidos de pais brancos, embora bebês nascidos de pais brancos sejam muito mais propensos a desenvolver a doença.

A ideia é que o uso da ancestralidade para interpretar essas diferenças nos níveis de marcadores metabólicos possa oferecer maneiras mais precisas de avaliar os riscos - mais precisa do que os testes genéticos tradicionais.

Mas o professor Scharfe adverte que é preciso fazer mais pesquisas antes que a descoberta possa ser aplicada clinicamente: Eles analisaram apenas 41 das muitas centenas de metabólitos conhecidos e confiaram nos relatos dos próprios pais sobre sua herança étnica, que nem sempre corresponde à realidade.

"Esta é apenas uma primeira fotografia, mas entender nossa ancestralidade metabólica tem um futuro promissor," concluiu Scharfe.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Metabolic diversity in human populations and correlation with genetic and ancestral geographic distances
Autores: Gang Peng, Andrew J. Pakstis, Neeru Gandotra, Tina M. Cowan, Hongyu Zhao, Kenneth K. Kidd, Curt Scharfe
Publicação: Molecular Genetics and Metabolism
Vol.: 137, Issue 3
DOI: 10.1016/j.ymgme.2022.10.002
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