09/05/2023

Muita insulina pode ser tão perigosa quanto pouca

Redação do Diário da Saúde
Muita insulina pode ser tão perigosa quanto pouca
Pesquisadores descobriram uma substância que pode evitar o choque de insulina.
[Imagem: Paul Hunt/Pixabay]

Choque de insulina

Pouco mais de um século se passou desde a descoberta da insulina, um período durante o qual os poderes terapêuticos do hormônio foram ampliados e refinados.

A insulina é um tratamento essencial para diabetes tipo 1, e frequentemente para diabetes tipo 2 também.

Cem anos de pesquisas avançaram muito a compreensão médica e bioquímica de como a insulina funciona e o que acontece quando há deficiência dela no organismo. Mas o inverso, como uma resposta hiperativa à insulina pode até mesmo se tornar fatal, é algo que tem permanecido largamente fora da agenda dos cientistas.

"Embora nosso corpo ajuste a produção de insulina, os pacientes que são tratados com insulina ou medicamentos que estimulam a secreção de insulina muitas vezes sofrem de hipoglicemia, uma condição que, se não for reconhecida e tratada, pode resultar em convulsões, coma e até morte, que definem coletivamente uma condição chamada choque de insulina," explicou o professor Michael Karin, da Universidade da Califórnia de San Diego (EUA).

A hipoglicemia (baixo nível de açúcar no sangue) é uma causa significativa de morte entre as pessoas com diabetes. Além disso, só neste ano cientistas da Dinamarca descobriram que as dosagens de insulina para os diabéticos vêm sendo calculadas incorretamente há décadas.

Agora, a equipe do professor Karin descobriu um mecanismo de defesa do organismo que pode nos proteger contra a hiperresponsividade à insulina, uma espécie de "válvula de segurança" que reduz o risco do choque de insulina.

Proteção contra excesso de insulina

Essa válvula é uma enzima metabólica chamada FBP1 (frutose-1,6-bifosfato fosfatase), que atua no controle da gliconeogênese, processo no qual o fígado sintetiza glicose (a principal fonte de energia utilizada pelas células e tecidos) durante o sono e a secreta para manter o fornecimento constante de glicose na corrente sanguínea.

Algumas drogas antidiabéticas, como a metformina, inibem a gliconeogênese, mas sem efeito nocivo aparente. As crianças nascidas com um distúrbio genético raro, pelo qual não produzem FBP1 suficiente, também podem permanecer saudáveis e ter uma vida longa. Mas em outros casos, quando o corpo tem necessidade de glicose ou carboidratos, uma deficiência de FBP1 pode resultar em hipoglicemia grave. Sem uma infusão de glicose, podem ocorrer convulsões, coma e possivelmente a morte.

A equipe descobriu que a FBP1 na verdade tem várias funções: Além de desempenhar um papel na conversão de frutose em glicose, essa enzima tem também uma segunda função não enzimática, mas crítica, a de inibir a proteína quinase AKT, que é o principal condutor da atividade da insulina.

"Basicamente, a FBP1 mantém a AKT sob controle e protege contra a hiperresponsividade à insulina, choque hipoglicêmico e doença hepática gordurosa aguda," resumiu o pesquisador Li Gu, principal autor da descoberta.

E a equipe já desenvolveu um peptídeo (uma cadeia de aminoácidos) derivada da FBP1 que se mostrou capaz de interromper a associação da FBP1 com a AKT e outra proteína que inativa a AKT. "Esse peptídeo funciona como um mimético da insulina, ativando a AKT," explicou o professor Karin. "Quando injetado em camundongos que se tornaram resistentes à insulina, uma condição pré-diabética altamente comum, devido ao consumo prolongado de dieta rica em gordura, o peptídeo (apelidado de E7) pode reverter a resistência à insulina e restaurar o controle glicêmico normal."

A equipe agora pretende prosseguir com o desenvolvimento do peptídeo e testar sua segurança e eficácia como uma alternativa à insulina usada para lidar com o diabetes.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Fructose-1,6-bisphosphatase is a nonenzymatic safety valve that curtails AKT activation to prevent insulin hyperresponsiveness
Autores: Li Gu, Yahui Zhu, Kosuke Watari, Maiya Lee, Junlai Liu, Sofia Perez, Melinda Thai, Joshua E. Mayfield, Bichen Zhang, Karina Cunha e Rocha, Fuming Li, Laura C. Kim, Alexander C. Jones, Igor H. Wierzbicki, Xiao Liu, Alexandra C. Newton, Tatiana Kisseleva, Jun Hee Lee, Wei Ying, David J. Gonzalez, Alan R. Saltiel, M. Celeste Simon, Michael Karin
Publicação: Cell Metabolism
DOI: 10.1016/j.cmet.2023.03.021
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