22/11/2021

Não somos tão inteligentes quanto o Google nos faz pensar que somos

Redação do Diário da Saúde
Não somos tão inteligentes quanto o Google nos faz pensar que somos
E não é só na educação: A internet está mudando nossa relação com a realidade.
[Imagem: Juandavo/Wikimedia]

"Eu sei" versus "Pesquisei no Google"

Desde o número de colheres que cabem em uma xícara até descobrir qual é o primeiro dia do verão, os mecanismos de pesquisa online, como o Google, colocam as respostas para aparentemente qualquer pergunta bem à sua frente, tornando o conhecimento mais acessível do que nunca.

Mas será que isto está levando as pessoas a pensarem que sabem mais coisas do que realmente sabem?

De fato, experimentos mostraram que esse acesso contínuo a informações está mudando a forma como as pessoas percebem seu próprio conhecimento, incluindo perder de vista onde termina sua própria memória e onde começa a internet.

"Quando estamos constantemente conectados ao conhecimento, as fronteiras entre o conhecimento interno e o externo começam a se confundir e desaparecer. Confundimos o conhecimento da internet com o nosso," destaca o professor Adrian Ward, da Universidade do Texas em Austin (EUA).

A pesquisa de Ward mostra que, ao "pensar com o Google" - ou usar a internet para preencher lacunas em seu próprio conhecimento - as pessoas acreditam que são mais inteligentes e têm uma memória melhor do que as outras, e predizem incorretamente se terão um desempenho melhor em testes de conhecimento futuros feitos sem acesso à internet.

Limites borrados

Embora os humanos confiem há muito tempo no conhecimento externo armazenado nos livros e por outras pessoas, a pesquisa online tornou a interface entre o pensamento interno e as informações externas mais rápida e contínua, turvando essa fronteira entre "O que eu sei" e o conhecimento em si, disponíveis a partir de outras fontes.

O processo de pesquisa no Google e demais mecanismos de busca também é muito parecido com pesquisar na sua própria memória, o que pode fazer com que as pessoas confundam informações encontradas online com informações em suas próprias cabeças.

E, em um mundo em que pesquisar online é frequentemente mais rápido do que depender da nossa própria memória, podemos ironicamente saber menos, mas pensar que sabemos mais, destaca Ward depois de realizar uma série de experimentos com estudantes universitários.

Repensar a educação

E isso pode afetar a capacidade das pessoas de tomar decisões: Sentir-se mais bem informado só porque usou a internet pode fazer com que você confie na intuição ao tomar decisões médicas ou financeiras arriscadas, e pode torná-lo ainda mais enraizado em seus pontos de vista sobre temas polêmicos, da ciência à política.

O professor Ward acrescenta que estes resultados também têm implicações importantes para a educação, uma vez que os alunos podem dedicar menos tempo e energia para obter conhecimento se já se sentirem instruídos.

De forma mais ampla, educadores e formuladores de políticas podem querer reconsiderar o que significa ser educado - talvez colocando menos prioridade na memorização de fatos que podem ser apenas pesquisados no Google. "Talvez possamos usar nossos recursos cognitivos limitados de uma forma mais eficaz e eficiente," sugere ele.

Checagem com artigo científico:

Artigo: People Mistake the Internets Knowledge for Their Own
Autores: Adrian F. Ward
Publicação: Proceedings of the National Academy of Sciences
Vol.: 118 (43) e2105061118
DOI: 10.1073/pnas.2105061118
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