15/05/2023

Cientistas questionam eficácia de tratamentos para osteoartrite

Redação do Diário da Saúde
Alegada eficácia de tratamentos para osteoartrite pode ser erro estatístico
Muito do aparente efeito dos tratamentos para osteoartrite - ou até todo ele - é apenas uma ilusão, destacam os pesquisadores.
[Imagem: Angelo Esslinger/Pixabay]

Osteoartrite

Recrutar pacientes com osteoartrite com muita dor para estudos clínicos de novos medicamentos para tratar a condição pode dar resultados incorretos se o pesquisador não levar em conta a variação natural da dor que ocorre, afirmam pesquisadores.

A osteoartrite é uma doença articular incurável que está se tornando cada vez mais comum. A doença aumenta com a idade e muitas vezes causa dor, prejudica a função física e gera incapacitação.

Os pacientes com osteoartrite podem experimentar flutuações na intensidade da dor, com alguns períodos de mais dor seguidos de períodos de menos dor. Tudo isso é natural, mas pode se tornar problemático quando eles participam como voluntários em testes de novos tratamentos para a condição, uma vez que os cientistas geralmente recrutam participantes com dor acima de um certo nível para participar desses estudos.

"As pessoas que sentem muita dor provavelmente terão menos dor em uma medição posterior. Isso é chamado de 'regressão à média'. Devido a esse fenômeno, as medições durante o acompanhamento geralmente mostram efeitos positivos, seja o tratamento eficaz ou não," alerta o professor Martin Englund, da Universidade de Lund (Suécia).

Regressão à média

Em um estudo feito com conjunto com a estatística Aleksandra Turkiewicz, Englund se propôs a mensurar a magnitude da melhora que surge da regressão à média de um ensaio típico de osteoartrite - ou seja, a parte da "melhora" que se deve simplesmente à variação natural da dor. O ensaio é baseado em dados de um grande estudo de base populacional nos Estados Unidos de pessoas com osteoartrite do joelho.

Os pesquisadores descobriram que o fenômeno explica cerca de 1 ponto de melhora em uma escala de dor de 0 a 10 - sem dor até a pior dor imaginável. Se parece pouco, este é justamente o nível de base usado para considerar os tratamentos como tendo efeito.

"Isto representa uma proporção significativa da melhoria relatada em muitos estudos, especialmente considerando que os pesquisadores frequentemente observam uma redução média da dor de apenas 1 a 2,5 pontos em pacientes com osteoartrite do joelho," disse Englund.

Assim, muito do aparente efeito do tratamento - ou até todo ele - é apenas uma ilusão, destacam os dois pesquisadores, levando eventualmente à aprovação de medicamentos ou tratamentos que não terão efeito.

Regras para um ensaio clínico válido

Para determinar se um tratamento é eficaz ou não, deve haver um grupo de controle adequado que receba placebo, os participantes do estudo não podem saber qual tratamento receberam em cada momento e o tratamento deve ser distribuído aleatoriamente.

Portanto, para que um tratamento seja considerado eficaz, ele deve produzir resultados melhores que o placebo, e os cientistas precisam levar em consideração a regressão à média.

"Há uma grande necessidade de tratamentos mais eficazes para osteoartrite, o que infelizmente significa que o mercado se abre para várias formas de tratamentos que afirmam incorretamente a eficácia ou exageram a dimensão dessa eficácia. As injeções de plasma rico em plaquetas são um exemplo de tratamento com eficácia insuficientemente comprovada, mas também o exercício na osteoartrite é um exemplo em que os estudos geralmente carecem de um grupo de controle relevante e os efeitos sobre a dor são frequentemente superestimados," concluiu Englund.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Pain in clinical trials for knee osteoarthritis: estimation of regression to the mean
Autores: Martin Englund, Aleksandra Turkiewicz
Publicação: The Lancet Rheumatology
DOI: 10.1016/S2665-9913(23)00090-5
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