31/08/2020

Influenciadores: Quando aprender por si mesmo não é suficiente

Redação do Diário da Saúde
Influenciadores: Quando aprender por si mesmo não é suficiente
Outros estudos já haviam mostrado que o valor do status social supera até o valor do dinheiro.
[Imagem: Lei Zhang]

Influência social

Não é nenhum segredo que as pessoas dão importância às influências sociais.

E não é só imitação: Por exemplo, quando vamos pela primeira vez a uma lanchonete e, portanto, não temos certeza de qual prato seria mais apetitoso, monitoramos as escolhas de outras pessoas para obter alguma orientação para nossa própria escolha.

Esse fenômeno, que pode assumir os mais diversos aspectos, é conhecido como "influência social".

A exploração desse fenômeno já virou até profissão, com os chamados "influenciadores" palpitando sobre tudo - e milhões de pessoas ávidas por seguir-lhes os palpites.

Assim transformado em fenômeno de massa, o assunto chamou a atenção dos psicólogos, que queriam saber se essa "aprendizagem social" é processada de forma diferente da aprendizagem direta, o tipo comum de aprendizado, com que nos deparamos com as situações e decidimos por nós mesmos.

O professor Lei Zhang liderou uma equipe das universidades de Viena (Áustria) e Hamburgo-Eppendorfin (Alemanha) para estudar o assunto.

Segundo eles, o estudo fornece evidências empíricas de que há um paralelismo entre a aprendizagem direta e o aprendizado social: Embora ambos sejam realizados em regiões distintas do cérebro, essas regiões interagem durante o aprendizado pelos dois métodos.

Paradigma de aprendizagem reversa

Os pesquisadores colocaram grupos de cinco voluntários no mesmo experimento de tomada de decisão, em que cada pessoa tinha que lidar com dois símbolos abstratos mostrados na tela do computador. O objetivo era descobrir qual símbolo levaria a mais recompensas monetárias no longo prazo.

Em cada rodada do experimento, cada pessoa primeiro fazia uma escolha entre os dois símbolos e, em seguida, observava quais símbolos as outras quatro pessoas haviam selecionado. Então, cada pessoa podia decidir entre manter sua escolha inicial ou mudar para o símbolo alternativo, escolhido pela maioria. Finalmente, cada um recebia uma recompensa em dinheiro de acordo com a sua segunda decisão.

"Dessa forma, possibilitamos interações em tempo real entre os voluntários, o que aumenta muito a validade ecológica," disse Lei Zhang. O psicólogo cita a "validade ecológica" referindo-se à Psicologia Ecológica, ou Psicologia Ambiental, um conceito introduzido por Roger Barker, que tem como objetivo estudar a interação das pessoas com os acontecimentos da vida cotidiana.

O que os voluntários não sabiam é que o símbolo que gerava uma recompensa maior estava sempre mudando. No início do experimento, um dos dois símbolos retornou recompensas monetárias em 70% das vezes e, após algumas rodadas, forneceu recompensas em apenas 30% das vezes. Essas alterações ocorreram várias vezes ao longo do experimento.

"Este chamado 'paradigma de aprendizagem reversa' cria incerteza para os voluntários, de modo que eles sempre precisarão aprender e reaprender para obter maiores ganhos. Em particular, quando a reversão acaba de acontecer, algumas pessoas do grupo podem captá-la mais rápido do que outras e, se isso acontecer, os outros podem combinar essas informações sociais em seus próprios processos de tomada de decisão," explica o pesquisador Jan Glascher.

Algoritmo da aprendizagem

O que os psicólogos esperavam era que os voluntários mudassem com mais frequência quando confrontados com escolhas opostas dos outros. Curiosamente, a segunda escolha - depois de considerar as informações sociais - refletiu a estrutura de recompensa melhor do que a primeira escolha.

Como explicar esse resultado?

Os pesquisadores usaram modelos sofisticados para quantificar o comportamento dos voluntários, o que lhes permitiu elaborar estratégias de aprendizado diferentes para a aprendizagem direta e para a aprendizagem social.

"No início de cada rodada, os voluntários combinavam sua própria experiência de aprendizagem direta e sua experiência de aprendizagem social para orientar sua escolha, com a aprendizagem direta seguindo um algoritmo de aprendizagem por reforço simples e a aprendizagem social instanciada pelo rastreamento do 'histórico de recompensa dos outros'," explicou Zhang.

Checagem com artigo científico:

Artigo: A brain network supporting social influences in human decision-making
Autores: Lei Zhang, Jan Gläscher
Publicação: Science Advances
DOI: 10.1126/sciadv.abb4159
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