10/11/2022

Postagens revelam a complexa interação entre solidão e depressão

Redação do Diário da Saúde
Postagens revelam a complexa interação entre solidão e depressão
Solidão e depressão estão entre os efeitos negativos atribuídos às mídias sociais.
[Imagem: Grae Dickason/Pixabay]

Solidão e depressão

A solidão é um fator de risco para a depressão - mas ela também pode ser um sintoma.

Por causa disso, os profissionais de saúde mental que tratam os pacientes que apresentam os dois quadros precisam navegar pela complexa relação entre as duas condições, entendendo cada uma e, eventualmente, tratando-as individualmente.

Para ajudar a melhorar nossa compreensão dessa complexa interrelação, Tingting Liu e colegas da Universidade da Pensilvânia (EUA) combinaram avaliações psicológicas tradicionais com métodos linguísticos para analisar postagens no Facebook.

Como os usuários de mídia social escolhem livremente quais palavras usam para descrever seus pensamentos e emoções, postagens em plataformas como o Facebook oferecem uma riqueza de dados linguísticos - basicamente, as palavras e expressões que as pessoas usam em suas postagens revelam muito sobre como se sentem.

Os pesquisadores descobriram que a linguagem associada à depressão se refere principalmente às emoções, enquanto a linguagem da solidão se refere mais à cognição.

Mas as duas também compartilham um fio comum: O uso frequente da linguagem referente à doença, à dor e às emoções negativas.

Emoção e cognição

A equipe recebeu permissão para coletar 3,4 milhões de postagens no Facebook de 2.986 indivíduos. Eles então administraram pesquisas de depressão e solidão a cada um, para quantificar o estado psicológico e os sentimentos de isolamento social. Por fim, eles usaram um programa de inteligência artificial para analisar linguisticamente as postagens em busca de palavras, frases ou temas associados à solidão e à depressão.

Os pesquisadores descobriram que as pessoas deprimidas e/ou solitárias são mais propensas a empregar linguagem sobre doenças, dor e emoções negativas, incluindo palavras como "mal-humoradas", "miseráveis" e "cansadas". Aquelas que não apresentam nem solidão e nem depressão mais comumente usam linguagem sobre reuniões sociais, relacionamentos e emoções positivas, como "festas", "encontros" e "jogos".

Esse padrão se aplicou a palavras abertamente emotivas, como "ruim" ou "emocionante", mas também a palavras com significados mais implícitos: Pessoas deprimidas e solitárias frequentemente usam o pronome singular em primeira pessoa "Eu", por exemplo, enquanto as pessoas que não estão deprimidas ou solitárias usam mais o pronome de primeira pessoa do plural "Nós", o que implica um relacionamento social.

Cabeça versus coração

Apesar de compartilhar alguns indicadores linguísticos, os dois quadros - depressão e solidão - também apresentaram componentes únicos. "Usamos 'cabeça versus coração' para nos referirmos a essa diferença," disse Liu.

Controlando individualmente a solidão e a depressão, os pesquisadores descobriram que a linguagem da depressão envolve mais emoções - o "coração" -, enquanto a linguagem da solidão envolve mais processos cognitivos - a "cabeça".

Neste levantamento, as pessoas solitárias se referiam com mais frequência a atividades contemplativas, como ler, escrever e observar o mundo, enquanto as pessoas deprimidas se referiam à sua apatia, dor e confusão. Esses padrões também se aplicaram a siglas e emoticons comuns da internet, com pessoas deprimidas frequentemente usando a carranca "=(" e acrônimos como "IDC" (abreviação em inglês de "Eu não me importo").

Estes resultados sugerem que a solidão pode resultar de um componente cognitivo interno, e não apenas do isolamento ou da falta de habilidades sociais. "A solidão pode ser motivada pela percepção das pessoas sobre o meio ambiente e as ameaças sociais," propõe Liu.

Essa visão está de acordo com pesquisas anteriores, que mostraram que "estratégias direcionadas à cognição social desadaptativa das pessoas são mais eficazes do que os estudos focados puramente em habilidades sociais," concluiu a pesquisadora.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Head versus heart: social media reveals differential language of loneliness from depression
Autores: Tingting Liu, Lyle H. Ungar, Brenda Curtis, Garrick Sherman, Kenna Yadeta, Louis Tay, Johannes C. Eichstaedt, Sharath Chandra Guntuku
Publicação: Mental Health Research
Vol.: 1, Article number: 16
DOI: 10.1038/s44184-022-00014-7
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