22/09/2022

Cobalto em excesso pode causar câncer

Com informações da Agência Fapesp
Cobalto em excesso pode causar câncer
Foram encontradas evidências claras de associação do cobalto com o câncer em três formulações: Metal puro, sais e um tipo de óxido de cobalto.
[Imagem: Wikimedia Commons]

Cobalto e câncer

O mais amplo estudo já feito sobre o assunto confirma uma suspeita de longa data: A exposição excessiva ao elemento cobalto pode causar câncer.

A pesquisa foi encomendada pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), uma entidade da Organização Mundial da Saúde (OMS). Participaram 31 cientistas de 13 países, entre eles professores e pesquisadores da Universidade de São Paulo.

Os autores fizeram uma revisão de centenas de artigos, analisando a carcinogenicidade de nove agentes: cobalto (metal, sais solúveis, dois tipos de óxidos, sulfetos e outros compostos de cobalto), antimônio (trivalente e pentavalente) e tungstênio para munição de armas (que contêm níquel e cobalto). Para o metal cobalto e os compostos de cobalto, partículas moleculares de todos os tamanhos foram incluídas na avaliação.

Foram encontradas evidências claras de associação do cobalto com o câncer em três formulações: Metal puro, sais e um tipo de óxido de cobalto.

"O cobalto e o antimônio registraram o mais alto índice de carcinogenicidade nos parâmetros da IARC, classificando-se como prováveis elementos carcinogênicos. O tungstênio registrou evidências menores, então segue sendo um possível carcinogênico," contou o professor Thomas Ong.

"Concluímos que o cobalto induz a formação de tumores ao proporcionar um aumento das inflamações e mutações. Além disso, ele modifica o padrão epigenético ao causar alterações na forma como as células se proliferam, se diferenciam e morrem," acrescentou.

A epigenética a que o pesquisador se refere é a área dedicada a entender como fatores ambientais (alimentação, exposição solar, tabagismo etc.) influenciam o funcionamento do genoma (ativando e silenciando genes). Ainda que não envolvam mutações gênicas (alteração na sequência do DNA), as modificações epigenéticas se perpetuam nas células e podem ser transmitidas aos descendentes.

Contaminação com cobalto

O cobalto é um dos componentes da molécula de vitamina B12 e, portanto, é essencial para o bom funcionamento do organismo, mas em pequenas quantidades. O problema é a exposição excessiva, que geralmente ocorre no local de trabalho ou em atividades profissionais.

"O cobalto é usado em muitas indústrias, inclusive na fabricação de ferramentas de corte e retificação, em pigmentos e tintas, vidro colorido, implantes médicos, galvanoplastia e, cada vez mais, na produção de baterias de íons de lítio," cita o relatório da equipe. Para o trabalhador dessas indústrias, a exposição ao elemento químico se dá, principalmente, por inalação de poeira e contato com a pele.

Para a população em geral, a ingestão de alimentos contaminados é a principal fonte de exposição, podendo ocorrer também pela fumaça de cigarro, poluição do ar e implantes médicos. No caso dos alimentos, a contaminação geralmente se dá quando os resíduos da fabricação de produtos que usam o cobalto chegam aos rios, ao solo e às plantações.

"É um problema grave porque coloca em risco um amplo número de pessoas, com o consumo de alimentos e água contaminados, e por isso é muito importante o processo de fiscalização," afirmou o professor Thomas.

Cobalto na alimentação

Segundo as evidências científicas disponíveis, o consumo de alimentos que naturalmente contêm cobalto não representa riscos à saúde.

O consumo normal de cobalto pela alimentação varia entre 5 e 50 microgramas (µg) por dia, com uma concentração no plasma sanguíneo de até 0,2 µg/litro. Sabe-se que, acima de 7 µg/litro de plasma, podem ocorrer sintomas de toxicidade, e o excesso de cobalto no organismo é eliminado principalmente pela urina.

Os alimentos que mais contêm cobalto são nozes, vegetais folhosos, cereais, chocolate, café, peixes e manteiga. A vitamina B12 é encontrada em carnes e derivados do leite, porém, a ingestão diária de 2,4 µg dessa vitamina contém apenas 0,1 µg de cobalto.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Carcinogenicity of cobalt, antimony compounds, and weapons-grade tungsten alloy
Autores: Margaret R.Karagas, Amy Wang, David C.Dorman, Amy L.Hall, Jingbo Pi, Consolato M.Sergi, Elaine Symanski, Elizabeth M.Ward, Victoria H.Arrandale, Kenichi Azuma, Eduardo Brambila, Gloria M.Calaf, Jason M.Fritz, Shoji Fukushima, Joanna M.Gaitens, Tom K.Grimsrud, Lei Guo, Elsebeth Lynge, Amélia P.Marinho-Reis, Melissa A.McDiarmid, Daniel R.S.Middleton, Thomas P.Ong, David A.Polya, Betzabet Quintanilla-Vega, Georgia K.Roberts, Tiina Santonen, Riitta Sauni, Maria J.Silva, Pascal Wild, Changwen W.Zhang, Qunwei Zhang, Yann Grosse, Lamia Benbrahim-Tallaa, Aline de Conti, Nathan L.DeBono, Fatiha El Ghissassi, Federica Madia, Bradley Reisfeld, Leslie T.Stayner, Eero Suonio, Susana Viegas, Roland Wedekind, Shukrullah Ahmadi, Heidi Mattock, William M.Gwinn, Mary K.Schubauer-Berigan
Publicação: Lancet Oncology
DOI: 10.1016/S1470-2045(22)00219-4
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