23/10/2009

Mulheres alcoólatras aprendem a consumir bebidas com as mães

Nilbberth Silva - Agência USP
Mulheres alcoólatras aprendem a consumir bebidas com as mães
A maioria das mulheres alcoolistas contou que os familiares tinham uma proximidade excessiva entre si, e não reconheciam os limites para que a intimidade não se tornasse invasiva.
[Imagem: USP]

Vítimas e agressoras

As mulheres alcoolistas são ao mesmo tempo vítimas e agressoras na violência doméstica.

A conclusão é de um estudo realizado na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) que envolveu 62 mulheres com cerca de 40 anos, sendo 32 delas alcoólatras. O estudo também mostra que essas famílias eram desestruturadas e que as meninas aprendem com as mães a usar o álcool para resolver seus problemas diários.

Aprendendo com as mães

A psicóloga Ana Beatriz avaliou em sua pesquisa de doutorado não só as mulheres, bem como suas famílias e aquelas em que elas e suas mães cresceram. Em seguida, analisou como as três gerações se relacionavam dentro de casa.

As mulheres alcoólatras aprendiam a beber e a ser violentas com suas mães, que, por sua vez, sofriam violência da avó. "Essas mulheres repetem o que é conhecido", explica Ana Beatriz. "Elas até desejam fazer diferente, mas não têm repertório para isso, já que o modelo de aprendizagem da violência é passado de geração a geração".

As mulheres alcoolistas tinham mães com o mesmo vício em 23,3% dos casos. O companheiro também era viciado em 20 % dos casos. A maioria das mulheres e suas mães havia sofrido agressão sexual, física ou verbal. As mães de mulheres alcoolistas também eram autoritárias e centralizavam as decisões, enquanto nas famílias de mulheres sem o vício o poder era dividido entre o casal.

Disfunções

A psicóloga classificou as relações entre os membros das famílias de alcoólatras como disfuncionais. "Nessas famílias não existia suporte e apoio entre os membros" descreve Ana Beatriz. "Além disso, as regras familiares para lidar com problemas diários não são bem estabelecidas. Isso gera crises familiares e sofrimento".

Geralmente, a relação das filhas que se tornaria alcoólatra com as mães era conflituosa. Já os pais tinham uma relação de proximidade exagerada com a filha. Os pais se aliavam às filhas para brigar com as companheiras. As mães sentiam ciúmes do relacionamento entre pais e filhas, o que aumentava as agressões.

Proximidade excessiva

A maioria das mulheres alcoolistas contou que os familiares tinham uma proximidade excessiva entre si, e não reconheciam os limites para que a intimidade não se tornasse invasiva. O uso de drogas foi uma maneira de declarar independência da família. "Mas a pessoa acaba dependente do álcool como é da família", constata psicóloga.

Família desestruturada é um fator de risco para desenvolver alcoolismo, mas não condição obrigatória. Ter um membro alcoólatra causa desestrutura na família.

Alcoolismo transmitido entre gerações

Segundo a psicóloga, a pesquisa é a primeira no Brasil a descrever a transmissão entre gerações da estrutura de famílias de mulheres alcoólatras e mostra a importância da prevenção.

"Se o profissional de saúde for trabalhar com essas mulheres e tentar mudar o padrão e comportamento delas, as filhas poderão experimentar um ambiente familiar diferente, em que elas não repitam os mesmos erros de suas mães".

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