Ferro no leite materno
Um estudo pioneiro e inédito, feito por pesquisadores do Instituto de Química da Unicamp e da Universidade de Oviedo, na Espanha, conseguiu sintetizar e utilizar nanopartículas de ferro para a fortificação de fórmulas artificiais e de leite materno para a alimentação de recém-nascidos.
"O objetivo da pesquisa foi encontrar uma forma de enriquecer as fórmulas artificiais com ferro que de fato pudesse ser metabolizado e utilizado pelo organismo. O leite materno in natura possui baixo teor total de ferro, cerca de 0,2 e 0,4 miligramas por litro. Porém, à medida que se liga a proteínas de alta massa molecular, ele se torna altamente absorvível e utilizado pelo organismo do bebê, diferentemente do ferro encontrado em fórmulas artificiais," explica a pesquisadora Rafaella Regina Peixoto.
A eficiência de um suplemento alimentar é medido pela biodisponibilidade, que se refere à quantidade do elemento (proteína, vitamina, etc.) que de fato é absorvido e utilizado pelo organismo em funções metabólicas.
A ingestão e absorção inadequadas de ferro nas primeiras semanas de vida podem trazer sérios danos à saúde, como anemia, atrasos no desenvolvimento e distúrbios comportamentais - por isso, o ferro é um dos elementos mais estudados para fortificação de fórmulas infantis e do leite materno.
Atualmente, a forma mais comum e barata de enriquecimento é com sulfato ferroso (Fe II), um sal que, em excesso, pode causar efeitos gastrointestinais colaterais e interferir na absorção de outros nutrientes, como zinco (Zn) e cobalto (Co).
Dessa forma, o desafio foi obter nanopartículas que se assemelhassem ao ferro do leite materno in natura, para garantir uma nutrição eficaz e adequada.
Ferro em nanopartículas
O pioneirismo da pesquisa está em investigar não somente o teor total de ferro no leite materno, como (e principalmente) a quantidade que é digerida e absorvida pelo aleitamento materno ou pelas fórmulas industriais.
A escolha por testar a fortificação através de uma nanopartícula se deve ao seu tamanho, entre 1 e 100 nanômetros, o que favorece sua absorção intestinal, e às suas características estruturais, que se assemelham à forma como o ferro é estocado pelo organismo.
Os resultados obtidos mostraram que o ferro da nanopartícula foi incorporado de forma não tóxica ao organismo das cobaias e utilizado para funções biológicas. Isso quer dizer que as nanopartículas de ferro foram de fato digeridas, absorvidas e utilizadas para o funcionamento do organismo.
O uso das formulações infantis é necessário especialmente para bebês prematuros ou que nasceram abaixo do peso. Nestes casos, busca-se obter uma formulação o mais semelhante possível ao leite materno cru. É para essas amostras que o enriquecimento com nanopartículas de ferro (Fe) se mostrou eficiente, de acordo com a pesquisa. "Acredito que essa é uma das formas mais promissoras de fortificar as fórmulas infantis, de maneira bem parecida com o leite materno in natura", ressalta Rafaella Peixoto.
Nutrição pelo leite materno
O leite materno é um alimento completo, constituído por 87% de água, dispersões coloidais, emulsões de gordura, membranas de glóbulos de gordura e células vivas. Os principais macronutrientes encontrados no leite humano são proteínas, lipídios e o dissacarídeo lactose. Os principais micronutrientes incluem vitaminas (A, B1, B2, B6, B12 e D) e elementos essenciais, como sódio (Na), potássio (K), cálcio (Ca), iodo (I), ferro (Fe), fósforo (P), magnésio (Mg), cobre (Cu) e zinco (Zn).
O leite humano também possui uma série de compostos bioativos, incluindo fatores imunológicos e de crescimento, como imunoglobulina, lactoferrina, leucócitos e fatores de crescimento epidérmicos. Porém, em determinadas situações a amamentação materna com leite in natura não é possível e, nestes casos, a alimentação de bebês é realizada por duas fontes: bancos de leite humano ou fórmulas infantis.
O Brasil possui uma das redes de bancos de leite humano mais ativas do mundo. Estima-se que em 2016 foram coletados 174.178 litros de leite e distribuídos 127.277 litros. No mesmo ano foram registradas 161.165 doadoras e 155.558 receptores, sendo os bancos de leite concentrados no Estado de São Paulo os mais ativos, segundo a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano.
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