26/10/2018

EUA podem estar desenvolvendo arma biológica, alertam cientistas

Redação do Diário da Saúde
EUA podem estar desenvolvendo arma biológica, alertam cientistas
Cientistas alertam que uma pesquisa com ares de tecnologia agrícola pode ser na verdade para desenvolver uma arma biológica.
[Imagem: MPG/ D. Duneka]

Guerra biológica

Devido às guerras, atuais e passadas, o público está bem ciente dos terríveis efeitos das armas químicas.

Enquanto isso, os efeitos das armas biológicas desapareceram ou sequer chegaram a fazer parte da consciência pública.

E agora, um projeto financiado por uma agência de pesquisa do Departamento de Defesa dos EUA está dando origem a preocupações sobre a possibilidade de que uma pesquisa científica com aparência legítima possa estar na verdade acobertando o desenvolvimento de tecnologia para fins de guerra biológica.

O programa, chamado "Insetos Aliados", pretende que insetos sejam usados para dispersar vírus geneticamente modificados em plantações agrícolas. Esses vírus seriam projetados para alterar os cromossomos das plantas por meio da "edição do genoma". Isso permitiria que modificações genéticas fossem implementadas rapidamente e em larga escala em plantações que já estão crescendo nas lavouras.

Mas esse tipo de sistema pode ser mais facilmente desenvolvido para uso como arma biológica do que para o propósito agrícola proposto, afirmaram cientistas do Instituto Max Planck de Biologia Evolutiva (Alemanha) e do Instituto de Ciências da Evolução de Montpellier (França), juntamente com juristas da Universidade de Freiburg (Alemanha).

O alerta foi publicado pela revista Science.

Insetos Aliados - Aliados de quem?

A agência militar norte-americana DARPA (Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa) defende que a edição do genoma usando vírus sintéticos abrirá "possibilidades sem precedentes" para alterar as propriedades das plantas agrícolas depois que elas já estiverem crescendo nos campos. As plantas poderiam, por exemplo, ser geneticamente alteradas para quase instantaneamente se tornarem menos suscetíveis a pragas ou secas. Até agora, a engenharia genética de sementes sempre ocorreu em laboratórios.

O programa da DARPA distribuiu um total de US$ 27 milhões com o objetivo de desenvolver vírus geneticamente modificados que possam editar geneticamente as culturas nos campos. O primeiro dos três consórcios, provenientes de 14 centros de pesquisa norte-americanos, anunciou sua participação em meados de 2017. Plantas como milho e tomate estão supostamente sendo usadas nos experimentos em andamento, enquanto as espécies de insetos de dispersão mencionadas incluem cigarrinhas, moscas brancas e pulgões.

O plano de trabalho da DARPA prevê demonstrações em larga escala do sistema totalmente funcional, incluindo os vírus dispersos por insetos.

Em declarações públicas, a agência afirma que os desenvolvimentos resultantes do Programa Insetos Aliados destinam-se ao uso agrícola de rotina, por exemplo, para proteger as culturas contra secas, geadas, inundações, pesticidas ou doenças.

EUA podem estar desenvolvendo arma biológica, alertam cientistas
A pesquisa é largamente desconhecida mesmo entre os especialistas em genética.
[Imagem: D. Caetano-Anolles]

Convenção de Armas Biológicas

O grande problema, dizem os cientistas, é que os agricultores, os produtores de sementes e, não menos importante, o público em geral, seriam maciçamente afetados pelo uso desses métodos eticamente questionáveis. "Não há praticamente nenhum debate público sobre as consequências de longo alcance de propor o desenvolvimento dessa tecnologia. O programa Insetos Aliados é amplamente desconhecido, mesmo nos círculos de especialistas," disse o professor Guy Reeves.

Entre outras preocupações, está o fato de que a DARPA não apresentou nenhuma razão convincente para o uso de insetos como um meio não controlado de dispersar vírus sintéticos no meio ambiente. Além disso, a equipe argumenta que os resultados do Programa Insetos Aliados poderiam ser mais facilmente usados para a guerra biológica do que para o uso agrícola rotineiro.

"É muito mais fácil matar ou esterilizar uma planta usando edição genética do que torná-la resistente a herbicidas ou insetos," explica Reeves.

Considerando essas e outras preocupações listadas no artigo da Science, o programa da DARPA pode ser visto como um programa que não se justifica para fins pacíficos, como é exigido pela Convenção sobre Armas Biológicas, além de poder levar a que outros países comecem a desenvolver suas próprias armas nessa área, argumenta a equipe.

"Por causa da ampla proibição da Convenção de Armas Biológicas, qualquer pesquisa biológica preocupante deve ser plausivelmente justificada como servindo a propósitos pacíficos. O Programa Insetos Aliados pode ser visto como violando a Convenção de Armas Biológicas se as motivações apresentadas pela DARPA não forem plausíveis. Isso é particularmente verdadeiro considerando que esse tipo de tecnologia poderia ser facilmente usado para a guerra biológica," disse a professora Silja Vöneky, que também assina o artigo.

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