08/02/2010

Estereologia: Brasil tem laboratório de referência mundial na área

Valéria Dias - Agência USP
Laboratório da FMVZ é referência mundial em Estereologia
Há revistas científicas que só publicam artigos cujas análises morfoquantitativas tenham sido feitas com estereologia.
[Imagem: Agência USP]

O que é estereologia

O Laboratório de Estereologia Estocástica e Anatomia Química (LSSCA), da USP, é referência no Brasil e no exterior no uso e desenvolvimento da estereologia aplicada na quantificação de partículas de interesse médico e biológico.

Trata-se do único representante da International Society for Stereology (ISS) para toda a América do Sul.

A estereologia é uma ciência em amplo desenvolvimento que permite a análise de imagens e de corpos sólidos não apenas em duas dimensões (2D) - a partir do comprimento e largura -, mas também levando em conta a profundidade (3D) e até o fator tempo (4D).

Esta ciência possibilita estimar o número total de objetos (e não só o número de perfis) e o verdadeiro tamanho deles (volume), além de inúmeros outros parâmetros, com precisão e acurácia.

Volume das células

Há revistas científicas que só publicam artigos cujas análises morfoquantitativas tenham sido feitas com estereologia.

"Atualmente, várias revistas científicas só estão aceitando para publicação artigos em que as análises morfoquantitativas tenham sido feitas com uso de estereologia", informa o professor da FMVZ Antonio Augusto Coppi, responsável pelo LSSCA.

Ele explica que uma célula, por exemplo, é uma partícula tridimensional (3D), possuindo comprimento, largura e profundidade, e os métodos de quantificação devem respeitar esta característica estrutural:

"O volume da célula é estimado a partir de cálculos feitos com estas três dimensões e não apenas a partir da área de seu contorno ou perfil. Na estereologia usamos conceitos de matemática, amostragem, geometria, probabilidade e estatística", esclarece.

Em geral, as contagens de células comumente realizadas levam em conta apenas o comprimento e largura, o que caracteriza uma abordagem morfométrica bidimensional (2D) que pode levar a interpretações equivocadas acerca do fenômeno biológico retratado.

Contando as células do cérebro

Um dos grandes diferenciais da estereologia em relação à morfometria (2D) é que além de estimar o volume, número, conectividade, superfície, entre outros, de um dado objeto, permite construir o intervalo de confiança da medida estimada, ou seja, o quanto esta medida varia em relação à medida real:

"Em um exemplo hipotético, se dissermos que o cérebro tem 5 milhões de neurônios, não precisamos contar cada uma das 5 milhões de células nervosas, mas sim faremos uma estimativa espacial das mesmas. Neste mesmo exemplo, a estereologia nos permite construir um intervalo de confiança para esta medida, ou seja, algo entre 4,5 e 5,5 milhões de neurônios", explica Coppi.

Erro calculado

Outra vantagem em relação à morfometria 2D é que a estereologia permite estimar o coeficiente de erro em relação ao método usado para uma dada quantificação: "A estereologia contempla um conjunto robusto de métodos e técnicas para realizar as medições e podemos calcular o coeficiente de erro de cada um deles que geralmente é muito baixo, em torno de 1% a 3%", conta.

Coppi explica que além de lâminas contendo tecidos oriundos de órgãos como pulmão, rim, encéfalo, pâncreas, intestino, placenta, entre outros, a análise estereológica também pode ser feita em imagens de qualquer natureza, como por exemplo, as obtidas por exames radiográficos, tomografias computadorizadas, linfocintigrafias, ultrassom, ressonância magnética, entre outras.

"Esta aplicação da estereologia interessa, em particular, aos oncologistas quando submetem pacientes à quimioterapia e necessitam monitorar com acurácia e precisão as dimensões da massa tumoral após o tratamento."

Contagem estereológica

As análises estereológicas incluem medidas de diversas grandezas, desde o microcosmos - micrômetro (a milésima parte do milímetro) e nanômetro (milésima parte do micrômetro) - até o macrocosmos, como por exemplo na quantificação de elementos rochosos utilizada pela Geologia.

De modo geral, as contagens estereológicas podem ser ópticas (usando planos focais sucessivos, amostragem tri e quadridimensional e softwares estereológicos específicos) ou físicas (usando planos físicos consecutivos e espaçados por uma distância previamente calculada e conhecida)

Cursos de estereologia

Criado em 2005 o LSSCA pertence ao Departamento de Cirurgia da FMVZ da USP e mantêm colaboração com pesquisadores da Dinamarca e Inglaterra, países pioneiros no uso da estereologia na Medicina e Biologia.

Estas colaborações foram resultados de treinamentos (pós-doutorados) que o professor Coppi realizou com pesquisadores naqueles países, como Terry Mayhew, da University of Nottingham, (Inglaterrra), e Hans Gundersen e Jens Nyengaard, da University of Aarhus (Dinamarca).

Atualmente o laboratório conta com um grupo multidisciplinar de 14 colaboradores ativos, graduados ou graduandos em medicina veterinária, biologia, educação física, enfermagem, fisioterapia e farmácia que realizam iniciação científica, difusão cultural, prática profissionalizante, mestrado ou doutorado. Além de pesquisas, o LSSCA também oferece treinamentos e workshops sobre Estereologia.

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