Arpão mais forte
Dois pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) em Ribeirão Preto acreditam ter descoberto a causa da maior capacidade infecciosa da nova variante do coronavírus SARS-CoV-2, a B.1.1.7, identificada originalmente do Reino Unido e com dois casos confirmados no Brasil pelo Instituto Adolf Lutz.
Jadson Santos e Geraldo Passos constataram que a proteína espícula da nova cepa viral, uma espécie de arpão que os vírus usam para se enganchar nas células, alcança maior força de interação molecular com o receptor ACE2, presente na superfície das células humanas e com o qual o SARS-CoV-2 se liga para viabilizar a infecção.
O aumento na força de interação molecular da nova linhagem é causado por uma mutação já identificada no resíduo de aminoácido 501 da proteína espícula, chamada de N501Y, que deu origem à nova variante do vírus.
"Vimos que a interação entre a proteína spike [espícula] da nova cepa do coronavírus com a mutação N501Y é muito maior do que a apresentada pela primeira linhagem do vírus isolado em Wuhan, na China," reforçou o professor Geraldo.
Apesar de o trabalho ainda não ter sido revisado por outros cientistas, o que é necessário para sua publicação, a FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), financiadora do estudo, decidiu divulgar os resultados antecipadamente.
Evolução surpreendente
Segundo os pesquisadores, a rápida propagação do SARS-CoV-2 entre os humanos está impulsionando sua evolução molecular.
Até agora, o vírus causador da covid-19 acumulou mutações a uma taxa de até dois nucleotídeos por mês, e isolados recentes apresentam pelo menos 20 alterações de nucleotídeos em seus genomas em comparação com a linhagem selvagem, isolada em janeiro de 2020. A maior parte das mutações está localizada na proteína espícula.
A linhagem B.1.1.7., detectada no início de setembro e descrita em dezembro de 2020 pelo Consórcio Genômico COVID-19 do Reino Unido, e já registrada em outros 17 países, incluindo o Brasil, representa um exemplo, entre vários outros, da rápida evolução molecular do novo coronavírus. Contudo, surpreendeu os cientistas por acumular 17 mutações, das quais oito estão localizadas no gene que codifica a proteína espícula na superfície do vírus.
Como a descrição dessa nova variante é recente, ainda não dá para avaliar com maior detalhe o fenótipo, ou seja, se ela é mais ou menos patogênica, explica o pesquisador.
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