01/10/2020

Cada estágio do sono produz sonhos diferentes

Com informações da Agência Fapesp
Cada estágio do sono produz sonhos diferentes
A última novidade na ciência dos sonhos é um aparelho para produzir sonhos lúcidos.
[Imagem: Oscar Rosello]

Tipos de sonhos

Há sonhos que, de tão vívidos, podem ser relatados como se fossem um roteiro cinematográfico: cheio de conexões, com começo, meio e fim. Outros, no entanto, se assemelham aos gifs do WhatsApp ou, no máximo, a um roteiro de vídeo curto, ao estilo TikTok. Embora possam ser impactantes e repletos de significados, apresentam estrutura muito mais simples que a descrição onírica do tipo "longa-metragem".

A analogia sobre as diferentes formas de relato de sonhos é da neurocientista Natália Mota, do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Natália fez uma pesquisa detalhada que confirmou que os relatos de sonhos ocorridos durante o estágio de sono REM (sigla em inglês para movimento rápido dos olhos) tendem a ser mais complexos e conectados que os do sono não-REM, desbancando uma teoria longamente aceita pelos cientistas de que apenas sonharíamos durante o período REM.

Estágios do sono

O sono é dividido basicamente em quatro estágios. Os dois primeiros (N1 e N2) ocorrem quando a pessoa está saindo do estado de vigília (acordada) rumo ao sono. Nesse momento, as pessoas geralmente têm sonhos curtos, embora muitas vezes intensos.

O estágio seguinte é o chamado sono de ondas lentas (N3), em que praticamente não há sonho algum. Já no estágio N4 - também conhecido como sono REM, que se caracteriza pelos movimentos repetitivos dos olhos -, o sonho tende a ser mais expressivo, com conexões e princípio, meio e fim.

O grande feito da equipe brasileira foi automatizar o complicado processo de lembrar, anotar e analisar os sonhos.

"Já existe todo um conhecimento sobre a ciência dos sonhos a partir de ferramentas objetivas em que julgadores humanos eram treinados para ler relatos oníricos e avaliar quão complexos, bizarros ou conectados eles eram. Desenvolvemos uma ferramenta que é capaz de analisar um volume grande de dados de modo rápido, sem vieses subjetivos ou até de linguagem, pois pode ser utilizada em qualquer idioma. Automatizar esse processo de análise, como fizemos no estudo, permitiu pela primeira vez fazer uma avaliação quantitativa dessa diferença estrutural," contou o professor Sidarta Ribeiro, membro da equipe.

Sonhos diferentes

Os pesquisadores analisaram os relatos oníricos palavra por palavra, utilizando a teoria dos grafos, um campo da matemática que estuda as relações entre os objetos de um determinado conjunto.

Para isso, os voluntários foram despertados em diferentes fases do sono.

"Não se trata de uma análise semântica, de significado das palavras. Não estamos lidando com o que foi dito, mas com a maneira como foi dito. Isso permite uma infinidade de análises futuras sobre compreensão do sonho em diferentes culturas e países," explicou Natália.

"Este é o primeiro estudo a demonstrar por meio da teoria dos grafos que os relatos de sonhos REM possuem uma conexão estrutural maior em comparação com os do sono não-REM (N2). Ao analisar os grafos, sonhos mais complexos estão associados a maior conectividade e a estruturas de gráfico menos aleatórias. Sem descartar a importância dos métodos tradicionais de análise, esses resultados são importantes, pois indicam que métodos computacionais podem ser aplicados aos estudos do estado onírico," diz Joshua Martin, membro da equipe.

"Até o início do século 21, havia a premissa de que o sonho ocorre apenas no sono REM, que nem era preciso estudar sonhos: estudava-se o sono REM e pronto. Hoje já se sabe que sonhamos durante a noite tanto nos estágios REM quanto nos não-REM, embora em graus variáveis," destacou o professor Sidarta.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Structural differences between REM and non-REM dream reports assessed by graph analysis
Autores: Joshua M. Martin, Danyal Wainstein Andriano, Natalia B. Mota, Sergio A. Mota-Rolim, John Fontenele Araújo, Mark Solms, Sidarta Ribeiro
Publicação: PLoS ONE
DOI: 10.1371/journal.pone.0228903
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