10/02/2021

Especialista explica riscos das novas variantes do coronavírus

Redação do Diário da Saúde
Especialista explica riscos da evolução do novo coronavírus
Prof. Richard Neher, da Universidade da Basileia, na Suíça.
[Imagem: Annette Roulier/Biozentrum Basel]

Evolução do novo coronavírus

Relatos de novas variantes do coronavírus Sars-CoV-2 tornaram-se mais frequentes nas últimas semanas.

Este é o assunto desta entrevista com o professor Richard Neher, da Universidade da Basileia (Suíça), sobre a evolução do coronavírus e o impacto dessas mutações na pandemia de covid-19.

Richard Neher lidera a pesquisa sobre evolução de vírus e bactérias da universidade, depois de ter chefiado, de 2011 a 2017, o grupo de pesquisa do Instituto Max Planck de Biologia do Desenvolvimento (Alemanha).

Professor Neher, os coronavírus eram anteriormente considerados um grupo comparativamente estável. Como é que as variantes agora estão aparecendo com mais frequência?

O Sars-CoV-2 sofre mutação menos rapidamente do que os vírus da gripe ou o HIV, mas as diferenças não são tão consideráveis. As linhas genéticas resultantes nos permitem reconstruir os caminhos de propagação do vírus. Mas, até recentemente, havia pouca evidência de que essas mutações alterassem muito as propriedades dos vírus.

Agora sabemos que algumas variantes se espalham mais rapidamente do que outras. Os resultados preliminares de culturas de células também indicam que os anticorpos são menos capazes de reconhecer certas cepas do vírus. No entanto, ainda não sabemos se isso realmente afetará a imunidade.

Em algumas variantes, cinco, dez ou até mais mutações aparecem ao mesmo tempo. Eu não esperava por isso.

Como você explica essa rápida evolução?

Isso pode indicar uma pressão de seleção crescente e persistente. Por exemplo, um grau crescente de imunidade na população favorece variantes de vírus que podem escapar parcialmente das defesas do corpo.

Sob quais condições essa pressão de seleção pode surgir?

Ela pode ocorrer no nível de um indivíduo ou de uma população. Por exemplo, em indivíduos com sistema imunológico enfraquecido, que não conseguem combater o vírus de maneira eficaz, o patógeno pode "experimentar" coisas novas por um período de tempo mais longo. No final, as variantes que escapam com mais eficácia das defesas do corpo permanecem.

Regiões onde a primeira onda da pandemia foi particularmente forte - como partes da América do Sul e da África do Sul - também exercem forte pressão de seleção porque muitas pessoas desenvolveram imunidade após a infecção por Sars-CoV-2. Novas variantes de vírus podem ter uma vantagem aqui.

Na África do Sul e no Brasil, os pesquisadores vêm acompanhando de perto o desenvolvimento do vírus. Essas variantes notáveis foram, portanto, descobertas e estudadas desde o início. Em outros lugares, pode haver variantes semelhantes que ainda não conhecemos.

As populações podem desenvolver imunidade coletiva contra Sars-CoV-2 nessas circunstâncias?

Provavelmente não globalmente - mas localmente e por um certo tempo se a taxa de vacinação for alta. Os vírus mudam muito rapidamente para que a imunidade de rebanho se desenvolva permanentemente na população.

A Covid-19 poderia causar taxas de mortalidade semelhantes às do Sars-CoV - que apareceu no final de 2002 - por meio de novas variantes? Afinal, o vírus Sars daquela época está relacionado ao Sars-CoV-2 de hoje.

Nós não temos razões para esperar tal coisa. O Sars-CoV e o Sars-CoV-2 divergem há muito tempo e, portanto, são claramente diferentes um do outro no nível genético.

Essas diferenças vão muito além da extensão das mutações que observamos até agora. Portanto, em minha opinião, é altamente improvável que a covid-19 cause taxas de mortalidade semelhantes às causadas pelo Sars-CoV em 2002/2003.

Precisaremos ser vacinados contra a covid-19 todos os anos no futuro, assim como fazemos contra a gripe?

No momento, não parece que a proteção da vacina contra Sars-CoV-2 esteja diminuindo tão rapidamente quanto no caso da gripe.

No entanto, posso imaginar que a vacinação terá de ser renovada a cada poucos anos com uma vacina adaptada contra as variantes mais comuns do vírus.

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