12/09/2019

Você se lembra da sua infância na primeira ou na terceira pessoa?

Redação do Diário da Saúde
Você se lembra da sua infância na primeira ou na terceira pessoa?
Já sabíamos que uma memória do passado molda como descrevemos o presente - e até o futuro.
[Imagem: CC0 Public Domain/Pixabay]

Primeira pessoa versus terceira pessoa

Pense em uma lembrança da sua infância. Você está vendo a memória com seus próprios olhos ou pode se ver enquanto vê aquela criança que você foi, como se você fosse um observador?

"Se a memória fosse apenas uma lembrança exata das nossas experiências, poderíamos pensar que recordaríamos nossas primeiras lembranças da perspectiva da primeira pessoa," pondera a professora Peggy Jacques, da Universidade de Alberta (Canadá). "Recordar uma memória não é como assistir a um filme do que aconteceu. Nós editamos e modificamos memórias cada vez que as recordamos."

O que os estudos da professora Peggy indicam é que a perspectiva através da qual nós recordamos nossas memórias - seja através de nossos próprios olhos, na primeira pessoa, ou vendo como um observador, na terceira pessoa - pode afetar a vivacidade e a força dessa memória.

E as memórias mais fortes vêm quando as lembranças são percebidas na primeira pessoa.

"Vários estudos demonstraram que isso pode afetar a forma como recordaremos mais tarde essas memórias," disse Peggy. "Visualizar memórias na terceira pessoa tende a reduzir a vivacidade dessa experiência, bem como a quantidade de emoção que sentimos. Nosso sistema de memória é muito dinâmico e flexível".

Repassar as memórias para aprender

Essa maior força da perspectiva de primeira pessoa é provavelmente uma coisa boa, pondera a psicóloga, uma vez que nossa capacidade de editar nossas memórias nos permite crescer e mudar a maneira como percebemos a nós mesmos e às nossas experiências.

Por exemplo, mudando a maneira como pensamos sobre uma memória perturbadora, somos capazes de aprender e seguir em frente, ajudando aqueles que sofrem de transtorno de estresse pós-traumático, apenas para citar um exemplo.

Isso também permite fazer uma checagem de realidade: Na próxima vez que você recordar uma memória na terceira pessoa, pergunte a si mesmo se essa memória é real ou não. "É possível que, como você não está se lembrando dessa experiência com seus próprios olhos, essa memória possa estar distorcida de alguma forma," disse Peggy. "Pode haver alguns aspectos que são falsos ou editados."

Realidade virtual

Mas, se nossas memórias são influenciadas pela perspectiva que usamos para lembrá-las, o que isso significa para as experiências que vemos pela primeira vez em terceira pessoa?

Essa é uma pergunta que Peggy ainda está explorando em maior profundidade. Ela está fazendo isso usando a tecnologia de realidade virtual.

"A realidade virtual nos permite ter experiências imersivas que nos parecem realmente reais, mas que experimentamos na terceira pessoa," disse ela. "Em nosso laboratório, estamos usando a realidade virtual para ver como a experiência de ambientes virtuais em primeira e terceira pessoas afeta a memória. Nossa hipótese de trabalho é que, após um intervalo, se você formou memórias de uma perspectiva de terceira pessoa, a memória não será tão durável e tenderá a perder a vivacidade ao longo do tempo."

Teremos que esperar o próximo artigo publicado pela equipe para saber se essa hipótese se confirmou ou não.

Checagem com artigo científico:

Artigo: A New Perspective on Visual Perspective in Memory
Autores: Peggy L. St. Jacques
Publicação: Current Directions in Psychological Science
DOI: 10.1177/0963721419850158
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