Investimentos e lucros
As indústrias farmacêuticas vêm aumentando a participação no desenvolvimento de novos fármacos ou de novas formulações já existentes para o tratamento de doenças negligenciadas, como malária, dengue e Chagas.
Uma das principais razões para isso, segundo especialistas na área, são consórcios capitaneados por organizações internacionais sem fins lucrativos, como a Drugs for Neglected Diseases initiative (DNDi) e a Medicines for Malaria Ventures (MMV).
As duas organizações financiam as etapas mais caras de desenvolvimento de novos fármacos - a descoberta de moléculas e testes pré-clínicos e de toxicidade -, realizadas em universidades e instituições de pesquisa em diferentes países, incluindo o Brasil.
Em contrapartida, as companhias farmacêuticas entram nas fases de ensaios clínicos e produção em larga escala, diminuindo, dessa forma, o tempo necessário para o desenvolvimento de novos tratamentos para doenças típicas de países em desenvolvimento.
"O processo de pesquisa e desenvolvimento de um novo medicamento pode chegar a 15 anos. Um dos objetivos de organizações internacionais, como a DNDi e a MMV, é diminuir esse prazo para o desenvolvimento de novos tratamentos para doenças negligenciadas para sete ou oito anos," disse Luiz Carlos Dias, professor do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Doenças negligenciadas
O laboratório do pesquisador iniciou há, aproximadamente, dois anos parcerias com a DNDi e a MMV, que são baseadas em Genebra, na Suíça, e financiadas por instituições como a Fundação Bill & Melinda Gates, o Médicos Sem Fronteiras (MSF) e o Wellcome Trust, do Reino Unido.
Lançada em 2003, o objetivo da DNDi, por exemplo, é desenvolver, até 2022, entre 11 e 13 novos tratamentos para leishmaniose, malária, HIV pediátrico e doenças do sono e de Chagas, entre outras.
Por meio de parcerias com universidades, instituições de pesquisa e indústrias farmacêuticas, a organização já desenvolveu cinco novos tratamentos para malária, doença do sono e leishmaniose visceral, que já estão sendo utilizados em países da América Latina, África e Ásia.
E, em colaboração com o Laboratório Farmacêutico de Pernambuco (Lafepe), a Fundacion Mundo Sano e o Ministério da Saúde da Argentina, está desenvolvendo uma formulação pediátrica do principal medicamento usado hoje para o tratamento de doença de Chagas - o benzonidazol -, contou Dias.
"A doença de Chagas mata mais na América Latina do que qualquer outra doença parasitária, incluindo a malária, e a DNDi estima que menos de 1% das pessoas infectadas recebam tratamento hoje", disse o pesquisador. "É preciso desenvolver novas alternativas de tratamento da doença", apontou.
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